Agricultura urbana corre riscos com políticas do governo Bolsonaro

Fonte: Rede Brasil Atual

Desenvolvimento da prática agrícola sustentável, que coloca na mesa alimentos mais baratos e saudáveis encontrarão barreiras impostas pela defesa dos interesses do agronegócio e do setor imobiliário
por Cida de Oliveira, da RBA publicado 15/01/2019 08h53, última modificação 15/01/2019 10h19
RITA MARTINS/AGÊNCIA IBGE
hortas urbanas podem ser afetadas por políticas conservadoras

Horta urbana em Salvador garante alimento e renda para muitas famílias

São Paulo  – O plantio de hortaliças, legumes, frutas, raízes, temperos e ervas medicinais em chácaras, quintais, praças, terrenos abandonados e escolas, nas cidades ou bem perto delas, tem papel cada vez mais importante para a segurança alimentar em todo o mundo. Desses canteiros, cultivados por mais de 800 milhões de pessoas, saem 20% de todo alimento produzido no planeta, segundo estudo da organização internacional Worldwatch Institute (WWI).

Fonte de renda para milhões de famílias – milhares delas no Brasil – é também alternativa sustentável de ocupação de espaços vazios nas cidades. O cultivo, geralmente livre de agrotóxicos e de outros agroquímicos, utiliza resíduos orgânicos extraídos de grande parte do lixo doméstico produzido nas cidades. E as sementes, flores e frutos das plantas atraem pássaros e abelhas, contribuindo para o aumento da biodiversidade local.

A atividade, que pode ser individual ou coletiva, para consumo próprio ou comercialização, proporciona o acesso a alimentos frescos, mais saudáveis e com preço mais baixo, já que a distância entre a produção e o mercado consumidor é bem menor. Para completar, o engajamento social e político com a aproximação das comunidades fazem dessa agricultura um espaço solidário e de resistência ao modelo de agricultura hegemônico.

Dificuldades

Entretanto, diante da atual conjuntura política e econômica brasileira, com forte presença de ruralistas no governo, tudo isso deverá enfrentar grandes dificuldades para ter prosseguimento.

“Com o Legislativo conservador e a ruralista Tereza Cristina como ministra da Agricultura de Bolsonaro, não vejo perspectiva de avanço de propostas que respeitem o meio ambiente, que diminuam custos e democratizem o acesso a alimentos orgânicos. Não no âmbito federal, onde essas políticas são coordenadas. Ali a perspectiva é outra, diferente do fortalecimento da agricultura urbana e agroecológica”, avalia o deputado federal federal Nilto Tatto (PT-SP), relator da proposta de Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara) aprovada em comissão especial no final do ano passado. O substitutivo está pronto para ser avaliado pelo plenário da Casa.

Conhecida como “musa do veneno“, a atual ministra Tereza Cristina (DEM-MS) presidiu a comissão especial que aprovou o substitutivo do deputado federal Luiz Nishimori (PR-PR) para projetos de lei apensados que na prática revogam a atual Lei dos Agrotóxicos. Conhecido como Pacote do Veneno, tem o objetivo de facilitar ainda mais o registro, produção, comercialização, importação e estocagem para aumentar o uso desses produtos no país, que já é o maior consumidor mundial.

“A aprovação, mesmo na comissão, pode ser considerada uma vitória se for levada em consideração a configuração da Câmara. Por isso, mais do que nunca, a agenda da agricultura ganha importância fundamental a partir desse período, em que as perspectivas são ruins para a agricultura brasileira do ponto de vista da qualidade dos alimentos, do impacto ambiental e até da balança comercial. Porque as ideias que este governo defende são as das empresas de agronegócio, dos agroquímicos, e não da sociedade brasileira e mundial. Além do âmbito institucional, essa pauta tem de continuar mobilizando os movimentos sociais e toda a sociedade. Afinal, estamos falando do alimento que vai para a mesa de todos nós”.

Disputa pela terra

Outra barreira para o desenvolvimento e ampliação da agricultura urbana é a disputa pela terra e por espaços, que pode ser agravada, entre outras coisas, pelas mudanças na regularização fundiária urbana e rural trazidas pela Lei 13.465/2017, proveniente da MP 759/2016. “Há muita insegurança no uso de áreas utilizadas”, afirma o integrante do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e do Fórum Catarinense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos, o agrônomo Marcos José de Abreu.

Mais conhecido como Marquito, o vereador eleito pelo Psol em Florianópolis já viveu experiências desse tipo. “Das cinco hortas comunitárias que nós acompanhávamos de 2006 a 2010, três acabaram desmobilizadas por esse motivo. Uma em Biguaçu, outra em Itajaí e a terceira, em Florianópolis, na área da usina de compostagem da (chamada) Revolução dos Baldinhos. A de Itajaí era em um loteamento em área de periferia, que tinha um terreno disponível perto de uma torre de alta tensão. De um dia para o outro, a área tornou-se privada. Um documento de legalização foi apresentado e a horta foi desfeita”, conta.

A de Biguaçu, segundo ele, estava em terreno de uma igreja católica. “Articulado com a prefeitura, surgiu um proprietário que acabou com a horta e desmobilizou todo o grupo. E a área utilizada na Revolução dos Baldinhos pertencia à Companhia de Habitação (Cohab). Quando a horta tinha dois anos, sem aviso prévio, a Cohab passou com com uma máquina sobre os canteiros, levando 60 toneladas só de composto orgânico”, lembra Marquito.

A Revolução dos Baldinhos a que ele se refere é a gestão comunitária de resíduos orgânicos articulada à agricultura urbana. Idealizada e implementada com a participação do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro) na comunidade Chico Mendes, no bairro Monte Cristo, Florianópolis, consiste na gestão de resíduos orgânicos e compostagem de toneladas de resíduos que até 2008 ficavam espalhados pelas ruas da comunidade,  aumentando a população de ratos e os casos de leptospirose. Esses resíduos orgânicos passaram a ser acondicionados em baldinhos com tampa. A população local teve ganhos nutricionais e se livrou do lixo e dos roedores.

“A maioria dos consumidores de produtos agroecológicos são os de maior poder aquisitivo ou com outra compreensão de mundo. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ganhou prêmio internacional justamente pela sua visão sistêmica de agricultura, alimentação e gestão de resíduos. Incluiu na merenda escolar a obrigatoriedade de ter pelo menos uma parte preparada com alimentos orgânicos. Foi na escola que o pobre passou a ter acesso ao alimento agroecológico. Isso é poderoso. E incomodou a indústria dos alimentos, que aceita a agricultura urbana enquanto nicho de mercado, para um fatia da população. Mas quando a gente coloca como garantia de acesso a uma alimentação adequada para todos, a coisa muda de figura”, conta o agrônomo.

Para ele, a agricultura urbana que permite à população mais pobre o acesso a alimentos de melhor qualidade é também o caminho para a superação crises. “Cuba conseguiu sair de uma grande crise de alimentação causada pelo embargo econômico a partir de uma política de agricultura urbana, produzindo perto das casas. A prática, que sempre existiu, emerge em tempos difíceis, como no pós guerra na Europa. A cidade norte-americana de Detroit, que foi capital da indústria automotiva, hoje é grande referência de agricultura urbana e ocupações. Pouco se fala a respeito, mas é a saída para nossa sobrevivência”.

Regulamentação

Em novembro, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara aprovou o Projeto de Lei (PL) 906/15, de autoria do deputado Padre João (PT-MG), que cria a Política Nacional de Agricultura Urbana e estabelece ações que devem ser empreendidas pelo governo federal em articulação com estados e municípios.

A proposta define a agricultura urbana como a atividade agrícola e pecuária praticada nos limites da cidade e integrada ao sistema ecológico e econômico urbano, para produção de alimentos e de outros bens para consumo próprio ou para a comercialização em pequena escala. Como tramita em caráter conclusivo, segue para o Senado sem ter de ser submetido ao plenário da Câmara.

Na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado está em discussão projeto do senador Eduardo Braga (MDB-AM), que regulamenta a produção orgânica de alimentos, plantas ornamentais e medicinais em terrenos urbanos desocupados de propriedade de particulares ou da União (PLS 353/2017). Aprovada na Comissão de Meio Ambiente, a proposta visa ainda permitir ao agricultor urbano acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com taxas de juros reduzidas, de até 2,5% ao ano, bem como ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

“Toda legislação que trata de agricultura considera o produtor pertencente a áreas rurais. No entanto, com a expansão das cidades, alguns estão em áreas periurbanas. Com essa proposta podem vir a ser incluídos em programas de fomento também. Esse é um eixo. Outra possibilidade é reconhecer espaços urbanos vazios, abandonados, como espaço para cultivos de alimentos e estabelecimento de hortas coletivas e comunitárias”, opina sobre o PLS a antropóloga Mônica Birchler Vanzella Meira, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Gestão Alternativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Membro do coletivo A Cidade Que Queremos (CCQQ) e dos Hortelões Urbanos, a ativista é voluntária em hortas urbanas comunitárias, como a Horta da Lomba do Pinheiro, do Centro Lupicínio Rodrigues, em Porto Alegre, ela conta que o governo gaúcho aprovou em agosto passado uma lei semelhante.

“Há de se tomar cuidado com a legislação para que um ‘projeto de horta’ não seja justificativa para impedir o uso social do imóvel. No caso da população em geral, penso que a promoção de canteiros e hortas urbanas pode despertar o interesse em relação à produção de orgânicos e incentivar a proximidade com os agricultores, reduzindo a relação de intermediários nessa cadeia. Há muitos benefícios que a prática do cultivo pode trazer para aqueles que se interessam pelas hortas comunitárias.”

Mônica observa que o projeto de lei deve estar articulado com os municípios quanto ao uso do solo. Ou seja, deve estar contemplado nos respectivos planos diretores, já que são os estados e municípios legislam sobre a ocupação do solo. E que a permissão para a criação de pequenos animais em áreas urbanas pode ser barrado, com razão, pela Vigilância Sanitária municipal.

“O uso de agrotóxicos nas áreas urbanas e periurbanas também merece atenção. Alguns defensivos, que embora sejam aprovados para uso na agricultura orgânica, são danosos e tóxicos para polinizadores. Mas a proposta, apesar de só falar em área urbana, ajuda muito aqueles produtores que, por uma razão ou outra ficaram estabelecidos nessa franja entre a área urbana e a rural e tem problemas em relação ao cadastro de produtor e, consequentemente, acesso aos programas de fomento.”

Outros pontos positivos, segundo ela, são a promoção do uso de áreas urbanas abandonadas para cultivo e o acesso à assessoria técnica, que ajuda muito iniciativas populares e comunitárias em torno de uma horta que cada vez mais atrai o interesse da população em geral.

Heavy Hour – hortas urbanas, agroecologia e impactos dos agrotóxicos sobre a alimentação e saúde

Clique abaixo para ouvir o programa Heavy Hour – Coletivo Catarse.

Qual a relação entre alimentação e saúde no país campeão mundial de consumo de agrotóxicos? As decisões governamentais que atingem a agroecologia no campo e na CIDADE! No Heavy Hour desta semana a gente conversa com João Francisco Moraes Cardoso, o vereador Tigre, assentado e produtor rural agroecologista, feirante da mais tradicional Feira Ecológica de Porto Alegre. Também no Estúdio da Lua, a Monica Meira, doutora em antropologia, pesquisadora, integrante do Coletivo A Cidade que Queremos, ativista de Hortas Comunitárias.

Pelo áudio de zapzap (não é fakenews!!), Dr Ricardo Ghelman, coordenador da Unidade de Pediatria Integrativa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, fala sobre os malefícios do agrotóxicos e a relação entre alimentação e saúde. E o Livreiro Bolívar (51-98905.0672) com sua dica na Bibliografia Social, o livro “A vantagem acadêmica de Cuba”!

Aprovada na Assembleia Legislativa – RS Projeto de Lei que institui a Política Estadual de Agricultura Urbana e Periurbana no estado.

Por Mônica Meira

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No dia 07 de agosto de 2018 foi aprovada na Assembleia Legislativa – RS Projeto de Lei (PL. 116/2018) que institui a Política Estadual de Agricultura Urbana e Periurbana no estado.

Resultante de ação suprapartidária reuniu cidadãos, representantes de coletivos (Coletivo Cidade Que Queremos, entre outros), de instituições (Emater/Ascar, UFRGS, Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo), associações, voluntários e coordenadores de hortas comunitárias (Lomba do Pinheiro) ou coletivas (Horta da Formiga) em um grupo de trabalho, com encontros semanais ao longo de mais de nove meses, em torno desse tema.

O projeto de lei tem o objetivo de definir uma política agrícola em consonância com a política urbana, que  contemple a segurança alimentar e nutricional de maneira sustentável, abrangendo e beneficiando agricultores que atuem em regiões urbanas e periurbanas.

Espera-se que, através desse instrumento, a cooperação entre União, Estado e Municípios possa produzir desenvolvimento sustentável, inclusão e maior equidade social e produtiva, além da melhora na qualidade de vida das famílias.


Acesso ao projeto e emendas: http://www.al.rs.gov.br/legislativo/ExibeProposicao/tabid/325/SiglaTipo/PL/NroProposicao/116/AnoProposicao/2018/Origem/Px/Default.aspx

Ouça entrevista com Lurdes Agata, coordenadora da Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, e Mônica Meira, pesquisadora em economia solidária e hortas urbanas da UFRGS e da PUC de São Paulo: http://www2.al.rs.gov.br/radioassembleia/DetalhesdaMatéria/tabid/391/IdMateria/17275/Default.aspx

Agricultura urbana: o exemplo cubano

Por Adriano Formiga, Daniela Grimberg e Marcos Bohrer

O texto é resultado de uma pesquisa realizada na disciplina de Geografia Agrária, no curso de Geografia-UFRGS. Foram analisados os benefícios sociais e ambientais da agricultura urbana a partir da experiência de Cuba, onde foram criadas e implementadas políticas públicas para o aprimoramento da prática.

Foto: Marcos Bohrer

Foto: Marcos Bohrer

A principal característica da agricultura urbana é sua integração e interação com o ecossistema urbano. Pelos moldes da agroecologia (aplicação dos princípios da ecologia às práticas agrícolas), a agricultura urbana tem sido, historicamente, uma estratégia de desenvolvimento. Onde sua implementação foi efetiva, boa parte das deficiências alimentares da população e os impactos ambientais foram reduzidos.

Em Cuba, a agricultura urbana foi largamente adotada nos centros urbanos com o colapso da URSS e o fim do comércio no âmbito do Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON), que decretaram o fim do modelo soviético de agricultura industrial praticado pelo país desde a década de 1970.

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Foto: Marcos Bohrer

Com a crise na produção de alimentos e a maior rigidez do bloqueio econômico imposto pelos EUA, a agricultura urbana foi uma solução: as zonas de produção próximas às áreas de habitação reduziam os custos de transporte, enquanto o pequeno volume da produção minimizava a necessidade de maquinaria e insumos como fertilizantes sintéticos, pesticidas etc.

Algumas estratégias do Ministério de Agricultura cubano para o incentivo à agricultura urbana

  • Introdução sistemática de organopônicos (sistemas de jardins orgânicos) e de hortas intensivas na agricultura urbana;
  • Canalização de recursos, para a produção, tanto às cidades como aos povoados menores;
  • Distribuição da terra a indivíduos e cooperativas, organizadas como Cooperativas de Crédito e Serviço (CCS) e Unidades Básicas de Produção Cooperativa (UBCP);
  • Incentivo aos patios (horta caseira para consumo familiar) e areas de consumo (produção de empresas estatais para consumo dos seus trabalhadores).
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Foto: Marcos Bohrer

O bloqueio econômico, no entanto, incide negativamente no setor: entre março de 2010 e março de 2011, calcula-se um prejuízo de US$ 120 a 300 milhões, condicionando o país à necessidade de importação de alimentos. Em função disso, no VI Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), realizado em 2011, foram discutidas novas políticas a serem aplicadas para o reforço da agricultura urbana.

Deverá ser priorizada a substituição das importações dos produtos que podem ser produzidos de maneira eficiente no país. Os recursos para isso deverão se concentrar onde existem as melhores condições para a produção. Já nas demais atividades, deverá predominar o enfoque territorial, dirigido ao autoabastecimento, com ênfase na agricultura suburbana.

Podemos concluir que a implementação da agricultura urbana em Cuba beneficiou o volume de produção, a qualidade da dieta da população pelo maior consumo de orgânicos e os fatores ambientais das cidades, tais como qualidade do ar e da água, pelo aumento de áreas verdes. Acredita-se que esse modelo deva ser explorado nos países em desenvolvimento, como forma de combater problemas sociais e ambientais gerados pela expansão dos centros urbanos.

Quem a Natureza espreita…

Foto: Lucimar Siqueira

Foto: Lucimar Siqueira

Por Mônica Birchler Vanzella Meira

Um terreno abandonado transformou-se em projeto de desenvolvimento sustentável na zona Leste de Porto Alegre. Na área de dois hectares, antes tomada pelomato e pelo lixo depositado clandestinamente, a comunidade do bairro Lomba do Pinheiro construiu uma horta comunitária onde se colhe feijão, cenoura, berinjela, alface, agrião, salsa, mandioca. Além dos temperos e dos alimentos saudáveis e frescos, são cultivadas plantas medicinais para tratamento fitoterápico. A Horta Comunitária Lomba do Pinheiro, como ficou conhecida, foi iniciada em outubro de 2011, por intermédio de lideranças comunitárias, religiosas e culturais. Iniciativas governamentais na área da saúde e da educação colaboraram para criar um espaço de aprendizado de promoção de saúde e melhorias na qualidade de vida da população. A área foi doada pela Prefeitura de Porto Alegre, conforme reivindicação da comunidade apresentada e aprovada nas assembleias do Orçamento Participativo (OP). Hoje o projeto comunitário faz parceria com voluntários, secretarias municipais e instituições universitárias.

Foto: Vinicius Correa

Mais de 10 mil pessoas já foram atendidas no local, trabalhando, assistindo oficinas ou visitando o espaço. Participam da iniciativa alunos das Sociedades de Assistência Social e Educacional (Sases), de creches, de escolas, universitários, idosos, usuários do Sistema Único de Saúde e profissionais da saúde, entre outros. É uma excelente oportunidade para conhecer a importância do cultivo e no desenvolvimento de uma vida mais saudável. Lá, trabalha-se com sustentabilidade, agroecologia e cidadania, acolhimento e pertencimento.

A ideia tem inúmeros benefícios. Além de promover a limpeza do terreno, com a retirada de resíduos que podem servir como criadouro para o Aedes aegypti, uma horta favorece a socialização entre vizinhos e até a valorização da região. Muito mais do que uma área dedicada à produção de legumes, hortaliças e ervas medicinais, podem ser espaços para a auto subsistência, segurança alimentar, geração de renda, educação, pedagogia, ecologia, política, cidadania, práticas terapêuticas, etc. São essencialmente lugares de socialização das relações e humanização dos espaços urbanos. A horta congrega a multiplicação de conhecimento, o resgate da história do território, a produção de hortas caseiras, a promoção de alimentação saudável e orgânica e o estímulo à participação e à cidadania. Plantamos hortaliças, temperos e ervas medicinais e colhemos amizade, solidariedade, trocas de ideias e conhecimentos.

A Horta é Saúde.

A Horta é Qualidade de Vida.

A Horta é da Comunidade.

Foto: Vinicius Correa

Foto: Vinicius Correa

Cavalinha. Foto: Lucimar Siqueira

Foto: Lucimar Siqueira

Projeto Horta Urbana Arado Velho

Por Coletivo Plantaê

O Coletivo Plantaê, que nada mais é do que um grupo de moradores do bairro que se reuniram para dar vida a este projeto, ocupou, revitalizou e construiu canteiros em um pedaço da Avenida Inácio Antonio da Silva, no bairro Belém Novo, transformando a realidade desta área e possibilitando à comunidade um espaço de convivência e lazer.

O local, pertencente à prefeitura de Porto Alegre e que estava abandonado há mais de 20 anos, acumulava muito lixo e trazia consigo mau cheiro e ratos.

O projeto visa também impactar a vida das pessoas desta comunidade e de pessoas de fora dela, pois acreditamos que a união entre os indivíduos se torna necessária uma vez que eles precisam uns dos outros para que a horta siga adiante. Trazemos de volta para o convívio das pessoas valores como o respeito, o espírito de comunidade, a preocupação com o cuidado com o próximo, a fraternidade, paciência e o mais importante o verdadeiro significado da palavra amor, esse último sendo visto como um sentimento de reciprocidade e respeito às diferenças entre os indivíduos. Além disso, queremos construir uma consciência ecológica na comunidade, ressaltando a importância de cultivos sem agrotóxicos e do cuidado com o solo e meio ambiente através de palestras educativas e de, até mesmo, a apresentação de outros projetos que incentivem e compartilhem desses mesmos valores.

Como forma de aproveitar ao máximo esse espaço, foi construída uma área de lazer onde as pessoas podem se reunir para descansar e ou desfrutar da horta. Esse espaço está aberto para a realização de eventos culturais como aulas de yoga, circos de rua, aulas e palestras sobre agricultura e permacultura orgânica entre outras manifestações culturais necessárias para o enriquecimento filosófico e cultural do ser humano.

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

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Fotos: Felipe Farias. Coletivo Plantaê

 

1ª Reunião do Grupo de Trabalho Hortas Urbanas

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O Coletivo A Cidade Que Queremos realizou no dia 20 de agosto de 2016 a primeira reunião do Grupo de Trabalho Hortas Urbanas. Participaram da reunião: Leonardo Melgarejo (AGAPAN), Lucimar F. Siqueira (A Cidade Que Queremos/AGB Porto Alegre), Mônica Meira, Márcio Eduardo de Brito (A Cidade Que Queremos), Zé da Terreira (Casa do Artista Riograndense), Daniela Lemos (Preserva Belém Novo), Felipe Farias (Preserva Belém Novo), Roberto Abreu (ONG Alice/Agapan) e Jaime Rodrigues.

O Grupo de Trabalho é resultado das discussões ocorridas durante a realização das Rodas de Conversa preparatórias à 1ª Conferência Popular da Cidade de Porto Alegre. A demanda por hortas urbanas surgiu no contexto de discussões sobre a utilização de vazios urbanos e sobre a necessidade de espaços que fossem tanto pedagógicos quanto pudessem ser aproveitados para produção de fitoterápicos.

As ervas medicinais se constituem num componente importante discutido no país no âmbito da Medicina Integrativa e Práticas Integrativas e Complementares (PIC) em Saúde no SUS.  A política foi criada em 2006 pelo Ministério da Saúde, e a lei das PICs em Porto Alegre foi regulamentada em dezembro de 2015. As práticas integrativas abrem possibilidades para várias formas de tratamento de saúde, em geral com uma visão ampliada, com uma abordagem holística e com tecnologias leves, como exemplo a homeopatia, acupuntura, medicina tradicional chinesa, fitoterapia, como práticas mentais a meditação, práticas corporais e outras mais.

Esta já é uma demanda de algumas comunidades em Porto Alegre, conforme manifestação ocorridas ao longo da 1ª Conferência Popular da Cidade. A implantação de um horto medicinal e uma horta comunitária pode ser uma forma de mobilizar a comunidade e vitalizar o envolvimento coletivo com uma atividade concreta.

Esta, portanto, foi a fundamentação inicial. Posteriormente, outras razões foram agregadas à discussão, tais como a possibilidade de implantação de hortas em ocupações, reassentamentos, terrenos vazios e outros pequenos espaços ociosos na cidade.IMG-20160820-WA0000