Prefeito de Porto Alegre-RS passa a controlar fundos de conselhos municipais. Veja como votou cada vereador.

Fonte: Página do Fórum Municipal dos Conselhos da Cidade Porto Alegre (FMCC)

MANIFESTAÇÃO DE REPÚDIO À TRANSFERÊNCIA DOS FUNDOS DOS CONSELHOS DA CIDADE PARA FUNDO ÚNICO, SOB CONTROLE DO PREFEITO”

Porto Alegre perdeu, mais uma vez. No dia 25 de novembro, o projeto de lei do Executivo que extingue dois fundos municipais e possibilita a reversão de até 90% dos recursos de outros 14 foi aprovado por 21 vereadores. Perdemos todos, porque com esta lei, os recursos que antes eram destinados a temas específicos, como meio ambiente, ciclovias, cultura, entre outros, vão para um caixa único, que o prefeito, através da secretaria da fazenda, usará naquilo que ele considera prioridade. Querem exemplos? Usará para pagar precatórios e cobrir o déficit previdenciário, para desenvolver projetos de urbanos e econômicos que mais lhe convierem, sem qualquer participação da população nas deliberações. 

O projeto aprovado vai contra todo o processo democrático construído ao longo dos anos, o qual fez de Porto Alegre exemplo mundial. Perdemos a possibilidade de exercer nossa cidadania, estruturada através de instrumentos como conselhos e fundos municipais, que estão sendo apropriados de toda a população, como ocorreu com a aprovação deste projeto. 

Temos a nominata dos vereadores que honram seu compromisso de representantes do povo e com a melhoria das condições de vida da população. Igualmente, temos os nomes dos responsáveis por mais esta retirada de direitos, ocorrida na Câmara de Vereadores na tarde do dia 25. Aqueles que foram eleitos pela população, votaram contra ela e sua atuação contrária ao interesse público deve ser lembrada, especialmente para que não depositemos nossa confiança naqueles que provaram não nos representarem. 

QUEM VOTOU PELA PERMANÊNCIA DOS FUNDOS SOB CONTROLE DOS CONSELHOS, PARA PROJETOS SOCIAIS (13)QUEM VOTOU PELA APROPRIAÇÃO DOS FUNDOS EM UM FUNDO ÚNICO CONTROLADO PELO PREFEITO (21)
Adeli Sell – PT
Airto Ferronato -PSB 
Aldacir Oliboni – PT 
Alvoni Medina – REP 
Cláudia Araújo – PSD 
Eng. Comassetto – PT 
João Bosco Vaz – PDT 
Karen Santos – PSOL 
Marcelo Sgarbossa – PT 
Márcio Bins Ely – PDT 
Paulinho Motorista -PSB 
Prof. Alex Fraga – PSOL
 Roberto Robaina – PSOL  








Prefeito Nelson Marchezan Jr. 
Cassia Carpes – PP 
Cássio Trogildo – PTB 
Claudio Conceição – DEM 
Claudio Janta – SD
Dr. Goulart – PTB 
Felipe Camozzato – Novo 
Hamilton Meier – PSC 
Idenir Cecchim – MDB 
João Carlos Nedel – PP 
José Freitas – REP 
Lourdes Sprenger – MDB 
Luciano Marcontonio – PTB 
Mauro Pinheiro – REDE 
Mendes Ribeiro – MDB 
Moisés Barboza – PSDB 
Mônica Leal – PP
Paulo Brum – PTB 
Professor Wambert – Pros 
Reginaldo Pujol – DEM 
Ricardo Gomes – PP 
Valter Nagelstein – MDB  

CARTA PÚBLICA – I SEMINÁRIO DO FÓRUM MUNICIPAL DOS CONSELHOS DA CIDADE – PORTO ALEGRE

“Conselhos municipais em ação: Fortalecendo a participação e as redes de solidariedade”

18 e 19 de outubro de 2019 – PORTO ALEGRE(RS)

Reunidos no I Seminário do Fórum Municipal dos Conselhos da Cidade de Porto Alegre, realizado nos dias 18 e 19 de outubro de 2019, representantes dos diferentes Conselhos de Políticas Públicas da Cidade discutiram suas pautas e estabeleceram um programa de ações articuladas na defesa da participação social, bem como a elaboração desta carta aberta para a sociedade.

Os conselhos, que assinam este documento, afirmam como princípios: a necessidade da defesa da democracia, da participação cidadã nas instâncias de gestão pública, dos conselhos como instrumentos importantes para a elaboração de políticas públicas e do controle social sobre a implementação e execução dessas políticas.

Na cidade de Porto Alegre, cidade que já foi símbolo da democracia participativa, denunciam o contexto políticoavesso à participação, com ações repressivas e intimidatórias por parte do executivo. Ações que retiram a autonomia dos conselhos, não legitimam o caráter institucional de cada colegiado e, ainda, promovem o burocratismo e o sucateamento da precária infraestrutura existente. Soma-se a isso, a influência unilateral nos regimentos e processos eleitorais, e, até mesmo, processos judiciais contra conselheiros, caracterizando nítida perseguição. O governo impede o acesso a documentos importantes para o trabalho do controle social, descumpre as normativas, prazos, precariza e desconsidera a função dos conselhos.

Compreendem que este contexto político autoritário está em consonância com a onda conservadora que acomete o Brasil e diversos países do mundo. O ataque aos conselhos demonstra, inclusive, a importância destes arranjos institucionais para defender os direitos sociais, e o direito dos cidadãos participarem do processo deliberativo que envolve as políticas públicas. 

A ação dos conselhos é um patrimônio da sociedade brasileira que contribui para a garantia dos princípios democráticos através da participação popular direta nas políticas públicas e na fiscalização dos recursos públicos.Por essa razão, tornam-se claros os interesses pelos quais setores do executivo acusam os conselhos de serem um empecilho para a implementação das políticas e andamento de processos e projetos. Não há interesse, por parte do governo, em serem fiscalizados, em dialogar e em ouvir a população. 

Todos os conselhos estão com dificuldades estruturais: espaço físico inadequado, falta de equipamentos, indisponibilidade de site e e-mail institucional, o que impede a divulgação do papel fundamental de cada colegiado, carência de recursos humanos para assessoramento e apoio técnico, entre outros. Essa estrutura, pela legislação, é de responsabilidade do executivo, que recebe recursos de impostos para cumprir as regras sociais. 

Como colegiados, os conselhos são formados por representantes dos cidadãos, usuários dos serviços, trabalhadores, prestadores de serviços e governo. Cada conselho atua de acordo com a política pública que está vinculado. Em alguns conselhos, o executivo impede seus representantes de participarem das reuniões, ou não indica seus representantes, não alcançando, assim, o quórum mínimo para funcionamento. 

Para o enfrentamento desta situação, os Ministérios Públicos e o Tribunal de Contas do Estado têm sido estratégias importantes e recorrentes. O legislativo, por meio da Câmara Municipal de Porto Alegre tem exercido papel fundamental, a exemplo da instalação da Frente Parlamentar em Defesa dos Conselhos da Cidade, que possibilitou a defesa e sustentação de questões relacionadas à legislação dos conselhos e dos fundos municipais.Os Sindicatos, que compõem os colegiados, também têm dado apoio estratégico a alguns conselhos.

Porém, é preciso que a sociedade faça uma profunda reflexão. Fortalecer os conselhos participativos é fortalecer a democracia. A sociedade precisa estar representada nos espaços deliberativos e fiscalizatórios, e as comunidades, principalmente as que vivem nas periferias da cidade, precisam ter voz e serem ouvidas. Por isso, cada cidadão é importante e precisa refletir sobre sua atuação no processo social de formação das políticas da cidade.

É tempo de resistir, é tempo de contribuir na defesa da democracia e das instituições que a sustentam. É tempo de enfrentar a tirania que se instala por meio das mãos de quem governa. Tirania que se expressa pelo subfinanciamento dos bens sociais, pela precarização dos serviços, pelo ataque aos espaços democráticos de participação popular, aos serviços públicos, servidores e a tudo que impeça a política de mercantilização do Estado.

Assinam a Carta Pública:

  1. COMDIM – Conselho Municipal dos Direitos da Mulher
  2. COMDEPA – Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência
  3. CME – Conselho Municipal de Educação 
  4. CMAS – Conselho Municipal de Assistência Social 
  5. COMJUS – Conselho Municipal de Justiça e Segurança Pública 
  6. CNEGRO – Conselho Municipal do Povo Negro 
  7. CMC – Conselho Municipal de Cultura
  8. COMATHAB – Conselho Municipal de Acesso a Terra e Habitação
  9. CMDH – Conselho Municipal de Direitos Humanos 
  10. CMS – Conselho Municipal de Saúde
  11. Comissão Municipal do Emprego   
  12. COMUI – Conselho Municipal do Idoso
  13. Fórum de Gestão do Planejamento RGP1 (CMDUA)

        Com o apoio dos movimentos sociais e pesquisadores participantes do seminário. 

Porto Alegre (RS), 19 de Outubro de 2019.

Carta em pdf para impressão.

CERCEAR A MAGISTRADA EM SUA LIBERDADE DE OPINIÃO E EXPRESSÃO, NEGA A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E ULTRAJA A CONSCIÊNCIA DA HUMANIDADE – Por José Renato de Oliveira Barcelos


José Renato de Oliveira Barcelos[1]

[…] Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. (Art. XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos). Sem grifos no original. 

[…] Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. (Declaração Universal dos Direitos Humanos – Preâmbulo). Sem grifos no original.

            O recente episódio envolvendo o corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, que segundo matéria publicada pelo siteMigalhasem 08 de abril próximo passado teria encaminhado à corregedoria geral da justiça do trabalho, para as devidas providências, notícia de suposta participação da magistrada Valdete Souto Severo (TRT da 4ª região) em evento de cunho político-partidário, revela uma prática de política judiciária que merece ser submetida à crítica e ao debate público.

            A magistrada Valdete Severo, em entrevista publicada pelo jornal Sul 21na mesma data da veiculação da matéria referida, manifestou surpresa com a medida divulgada. Esclarecendo as condições de sua participação no debate “Comentários a uma condenação anunciada e à prisão política de Lula”, que se realizou na última terça-feira em Porto Alegre, evento esse público e suprapartidáriopara a qual foi convidada na condição de professora e cidadã, referiu que a atividade nada teve de ilegal, pois “a liberdade de expressão de pensamento é garantida como direito fundamental. A Constituição não proíbe juízes e juízas de serem seres políticos. Há vedação apenas ao exercício de “atividade político-partidária” (art. 95), acrescentando que “manifestar opinião em evento público não é exercer política partidária”.

            A primeira questão que parece oportuna destacar neste episódio diz respeito ao fato de que a magistrada Valdete Severo, para além da função que exerce e do cargo que ocupa, é, antes de mais nada, umser humano. E é precisamente essa condiçãohumanaque lhe outorga – previamente às responsabilidades e atribuições que a autoridade da jurisdição lhe atribuem, por competência, alçada e por força do cargo que ocupa – a valênciaque a investe na singular posição de membro da família humana, para utilizar uma expressão grafada no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos

            Portanto, esta parece ser a primeira – e talvez a principal – e antecedente razão pela qual a “providência” encaminhada pelo Ministro contra a magistrada assume contornos de cerceamento da liberdade de palavra. Ou seja: a medida, antes mesmo de violar as prerrogativas funcionais inerentes ao cargo que ocupa, ataca a magistrada em sua dignidade inerente à condição de pessoa humana, direito fundamental e intrínseco à natureza do serhumano. Por essa razão primordial a interpretação da medida interposta em um plano cognitivo de dimensão alargada revela, além de sua inépcia jurídica, conduta lesiva à consciência da humanidade. A falhaprojeta-se portanto a um domínio mais amplo que é o espaço de todos nós, seres humanos que somos. 

            Não pode ser outra a conclusão a que se chega quando se examinam os preceitos legais que regem a matéria, sobretudo se cotejados com os mandamentos constitucionais pertinentes e respeitado o princípio da hierarquia das normas. Nesse sentido, o verdadeiro espírito da norma, especialmente no que respeita aos dispositivos constitucionais incidentes, não é identificável e nem mensurável mediante interpretação isolada de um ou de outro preceito. Exsurgirá, sim, para o hermeneuta atento, do exame do conjunto das normas que visam ao mesmo fim. E esse exame há de conduzir-se, há de ser balizado pelo absoluto respeito à hierarquia das normas em que são inseridos os mandamentos perquiridos. O exame, sem esta visão do todo, do conjunto das normas voltadas para o mesmo fim, sempre será pericárdico, superficial, por isso imprestável para conduzir ao correto e justo entendimento. Ao estudioso da lei compete ir, sempre, ao âmago de cada dispositivo legal e pesquisar, em toda profundeza e amplitude, a legislação sob seu exame.

            Na dicção Constitucional, a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Por outro lado, o projeto de sociedade proposto na Carta Política de 1988 consagra a construção de uma sociedade livre, justa e solidária igualmente como objetivos da República, elevando ainda a livre manifestação do pensamento à categoria de direto fundamental. 

O texto constitucional dispõe igualmente que desde que observados os limites da norma fundamental, a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, não sofrerão qualquer restrição. Veda, por outro lado, toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística, bem como consigna expressamente que nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação.      

A liberdade de expressão e manifestação do pensamento, aliás, é assegurada por várias outras normas de ordem infraconstitucional, destacando-se a Lei n° 7.524/86, a Lei n° 9.610/98, a Lei n° 8.389/91 e a Lei n° 7.524/86. Por outro lado, Tratados Internacionais celebrados e ratificados pelo Brasil consagram de forma incontestável esse direito, dentre os quais se destacam a“Declaração Universal dos Direitos Humanos” de 1948, a“Convenção Americana sobre Direitos Humanos” (CADH – Pacto de São José da Costa Rica) de 1969 e a“DeclaraçãoInternacional deChapultepec” de 1994.

Não será necessário um grande esforço de raciocínio para que se perceba de forma clara que o que é vedado ao magistrado – pela letra do inciso II do § 1° do artigo 95 da Constituição Federal – é a dedicaçãoà atividade político-partidária, não o exercício de um direito constitucionalmente asseguradocomo referido. Da mesma forma, não pode haver dúvida sobre o significado de dedicaçãoque como verbo transitivo direto que é, obviamenteindica: pôr em ação ou em atividade, praticar, cumprir os deveres, as obrigações inerentes a…(cargo, ofício, etc.), tal qual o que efetivamente realiza o magistrado no exercício de sua função e no cumprimento de suas prerrogativas.

A Lei Complementar n° 35/79 (Estatuto da Magistratura), por seu turno, ressaltando o necessário resguardo dos valores de dignidade e independênciado magistrado,determina que são deveres do magistrado “cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos de ofício”, como qualquer cidadão comum. Se tal encargo, por óbvio inerente a sua condição de pessoa humana, por um lado o faz tributário das obrigações que esta condição lhe impõe, por outro, o torna credor do conjunto de direitos assegurados à pessoa humana, igualmente inerentes a esta peculiar qualidade.   

Para a realização dos valores democráticos e do projeto de sociedade que a Constituição Federal propõe e assegura, é imprescindível que a sociedade conte com magistradas e magistrados independentes, de elevada autoridade moral, forte espírito crítico e consciência social. Conscientes de sua  missão em um país de proporções continentais e com profundas desigualdades sociais como o Brasil, emancipados como mulheres e homens de seu tempo, cabe aos magistrados inspirar na sociedade a necessária confiança em um Poder Judiciário fortalecido por seu compromisso institucional em que a promoção efetiva de uma justiça para todos o torne sensível, de fato, ao resguardo e proteção ao princípio da dignidade da pessoa humana, conquista primeira da evolução histórica dos direitos humanos como patrimônio universal. 


[1]Advogado. jrenatobarcel@gmail.com

O CCQQ apoia o Manifesto dos Direitos das Vítimas de Perseguição Política na Ditadura Civil-Militar Brasileira

Fonte: Carta Capital

No documento, 71 entidades e 376 pessoas acusam a gestão Bolsonaro de tentar fazer uma ‘revisão histórica’

Após o presidente Jair Bolsonaro dar carta branca para Damares Alves investigar supostos crimes de corrupção na Comissão da Anistia, entidades e membros da sociedade civil publicaram um manifesto em que se posicionam contra notícias falsas propagadas e a instauração da CPI pretendida pela ministra. No documento, 71 entidades e 376 pessoas acusam o Governo Federal de tentar fazer uma “revisão histórica” para suavizar a Ditadura Militar no Brasil.

O Manifesto em Defesa dos Direitos das Vítimas de Perseguição Política na Ditadura Civil-Militar Brasileira também aponta incongruências da matéria “A Farra das Indenizações”, da Revista IstoÉ. A publicação relata, por exemplo, que muitos dos que receberam os benefícios seriam “petistas” – quando, na verdade, existem pessoas anistiadas por histórias de perseguição anteriores à criação do PT.

No documento, desmente-se também que o ex-presidente Lula recebeu 56 mil reais de pensão da Comissão da Anistia. O pagamento não foi gerenciado pela organização, que não existia na época em que Lula foi indenizado pelo acidente trabalhista que sofreu nos anos 80. Toda a reparação econômica dos valores foi determinada pelo Ministério do Trabalho, já na década de 90. Estranhamente, a publicação da IstoÉ não mencionou, também, que a Comissão da Anistia foi consolidada no governo de Fernando Henrique Cardoso, pela MP N°2.151/2001.

“Até hoje não foi revisada a continuidade dos torturadores nas fileiras das carreiras de Estado e que seguiram recebendo seus salários e aposentadorias manchados de sangue. Não notamos o mesmo interesse da revista e dos políticos que defendem a moral e a transparência das contas públicas em propor uma CPI, ou em buscar quantificar o montante dos valores pagos a agentes públicos, civis e militares, que causaram os danos pelos quais o Estado hoje é responsável por ressarcir”, denuncia o manifesto.

Caça às bruxas

O presidente Jair Bolsonaro declarou nas redes sociais que a auditoria seria realizada para investigar benefícios concedidos a “vítimas da ditadura” – expressão escrita exatamente assim, entre aspas -, no intuito de cumprir com normas de transparência dos recursos públicos. Além dele, seus filhos Carlos e Eduardo endossaram o discurso do pai – o último, posando com livros publicados pela Comissão, escreveu que “a todo momento, a esquerda tenta reescrever a história posando de vítima, mentindo”.

Ao longo do documento, que possui 20 páginas, é possível encontrar links de acesso para bancos de dados do Ministério da Defesa, do Ministério da Justiça e da Controladoria Geral da União, com a possibilidade de pesquisar, pelo nome, os valores recebidos por cada anistiado político.

Leia a íntegra do Manifesto.

Em três episódios reportagem sintetiza a questão envolvendo a Fazenda Arado Velho – Belém Novo – Porto Alegre

Primeiro episódio:

 

Segundo episódio:

 

Terceiro episódio:

 

Leia mais sobre a Fazenda do Arado Velho localizada em Belém Novo, Porto Alegre(aqui).

Texto sobre a retomada Guarani Mbya (aqui).

NOTA Movimento Preserva Belém Novo e campanha Preserva Arado

Fonte: Preserva Belém Novo

“Apresentação de projeto escancara ameaças, acusações, intimidações e agressão aos que questionam empreendimento na Fazenda Arado Velho

Como entender uma reunião marcada para um grupo seleto – Conselheiros e Delegados do Orçamento Participativo – sendo que nem todos foram avisados ou convidados?

O que esperar de uma apresentação feita por empreendedor investigado civil e criminalmente além de ser processado em ação civil pública por se beneficiar de alteração do Plano Diretor sem a participação da população?

E se essa apresentação se realizar na sede da Prefeitura? Sob a guarda de seguranças privados, com uma equipe à postos para registrar por fotos e imagens todos que se manifestem em desacordo com o empreendimento?

O que pensar ao ouvir o representante do empreendedor negar diversas vezes a existência de projeto diferente, apresentado à comunidade pela última vez em outubro de 2015 e que consta no Estudo de Impacto Ambiental?

Não bastasse esse quadro deplorável – onde o poder público está à mercê dos interesses privados – a cereja desse bolo indigesto é a confirmação das táticas impostas à população submetida à pressões, intimidações, ameaças e violência física.

A noite do dia 19 de julho de 2018 fica na história de Belém Novo.

“Liderança comunitária” que defende ferozmente o empreendimento, pela falta absoluta de argumentos, agrediu morador que ousou questionar as informações apresentadas. Atitude covarde e infundada, flagrada por dezenas que ali estavam.

Após dois anos e meio de insurgência frente ao mega empreendimento imposto para a Fazenda Arado Velho, os poucos moradores que souberam e participaram desse circo romano saem com atenção redobrada.

Repudiamos a violência utilizada contra morador do bairro que buscou exercer seu direito dever cidadão de participar de reunião que tratava de assunto de alta relevância para seu bairro e cidade.

Desprezamos a ação intimidadora de “representantes comunitários” bem como do empreendedor e seus representantes que faltaram com o respeito com a população de Belém Novo – excluída do debate sobre o tema – e com aqueles que questionaram a apresentação – constrangedoramente “fichados” e gravados pelas câmeras à serviço da empresa Arado.”

O signo da intolerância

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Foto: Facebook.

 

As mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes há exatos 20 dias, podem ser examinadas, discutidas e debatidas por diversos ângulos, todos igualmente tristes e devastadoramente cruéis.

No entanto, parece haver um traço comum a todas estas faces da crueldade: o signo da intolerância. A intolerância de gênero, de opção sexual, de condição social, de classe, de cor, de condição política.

Sim: porque não devemos jamais esquecer que o crime que vitimou Marielle e Anderson foi um crime político. Um crime para o qual as autoridades policiais, passados estes intermináveis e dolorosos 20 dias, não dispõem de nada além dos resultados do Disque Denúncia.

“Diversas mas não Dispersas”, um dos temas mais caros à Marielle quando em questão o móvel da condição da mulher em um contexto social capturado pelo patriarcado grotesco e presunçoso que ainda impera na sociedade brasileira, profundamente desigual e preconceituoso no que diz com a ontologia do feminino, parece no entanto apontar não somente para a sobrevida de sua luta, mas para a superação definitiva da intolerância, ainda que distante no tempo e no espaço.

Além disso, não devemos esquecer também que Marielle Franco foi uma parlamentar democraticamente eleita com mais de 46.500 votos. Esta condição lhe investia de um poder popular concreto e também simbólico em que as reais consequências de uma brutal e repentina supressão, talvez ainda não adequadamente mensuradas, por certo vão muito além de sua condição pessoal e profissional.

Nesta dimensão, sua morte hedionda significa também a transposição de um limite, uma fronteira, a raia entre o poder popular real e simbólico magistralmente incorporado e exercido por Marielle. Este crime assume, por isso, o figurino de atentado contra a própria democracia. Por isso um crime político, porque um crime contra a democracia!

O Coletivo A Cidade que Queremos, ao reafirmar de forma veemente a defesa da democracia e a solidariedade e crença nos valores e nas lutas sustentados e defendidos por Marielle Franco, marca aqui sua posição de denúncia deste crime inumano, pela punição dos culpados e pelo combate intransigente à intolerância de qualquer espécie.

Marielle para sempre!

Nota pública conjunta sobre o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre

Fonte: Agapan

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NOTA PÚBLICA CONJUNTA
A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), a Associação Sócio-Ambientalista (Igré), o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá) e a União Pela Vida (UPV) vêm a público manifestar que hoje (24/11/2017) completa um ano sem reuniões do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre (Comam). A data de hoje também marca, exatamente, seis meses da posse do atual titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams), Maurício Fernandes da Silva.
Compete ao secretário, que é o presidente do Comam, marcar e convocar as reuniões, conforme art. 2º, II do Regimento Interno do Conselho (Decreto Municipal nº 11.638/96). No entanto, em todo este período de seis meses, o secretário não marcou nenhuma reunião do Conselho, retardando e deixando de realizar as convocações. Assim, ao impedir a sociedade civil e a população em geral de participar das decisões sobre o meio ambiente, os gestores públicos demonstram o seu desprezo pelos valores democráticos, desrespeitando a Constituição e as leis.
A situação é mais grave porque uma das principais atribuições legais do Comam é definir as diretrizes de aplicação dos recursos do Fundo Municipal Pró-Defesa do Meio Ambiente (Fumproamb), bem como fiscalizar sua aplicação. Ocorre que os gestores estão descumprindo as diretrizes definidas pelo Conselho para a aplicação dos recursos do Fumproamb no ano de 2017, o que explica a sua atuação de impedir a fiscalização que deveria ser realizada pela sociedade através do Comam.
O governo municipal editou pelo menos três decretos de abertura de créditos suplementares, somando valor de R$ 4.388.075,00 (quatro milhões trezentos e oitenta e oito mil reais e setenta e cinco centavos), descumprindo as diretrizes estabelecidas para o uso do Fumproamb além de violar diversas das normas legais municipais.
As entidades que subscrevem vêm a público informar que estão adotando as medidas legais cabíveis junto aos órgãos competentes para a apuração de atos de improbidade administrativa e ilícitos criminais pela atual gestão municipal, visando evitar que sejam cometidas mais irregularidades que prejudicam, de diversas formas, a qualidade de vida dos cidadãos e o meio ambiente.
Porto Alegre, 24 de novembro de 2017.
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Nota do Blog:
O COMAM foi implementado através do Decreto  Número 11.508, DE 27 DE MAIO DE 1996. O Decreto regulamenta  a Lei Complementar no 369, de 16 de janeiro de 1996 que “Dispõe sobre a implantação do Sistema Municipal do Meio Ambiente (SISMAM), do Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMAM), sobre a Política Municipal do Meio Ambiente e dá outras providências.

A importância de descentralizar a participação política

Fonte: Medium/@carolinemusskopf

As demandas e preocupações de Nova Santa Rita (RS) são movidas através do Centro da cidade. No mesmo espaço, estão os representantes que podem modificar essa lógica. 

Uma das principais reivindicações da população de Nova Santa Rita são melhorias no transporte público.

Como continuação de nossa série sobre planejamento urbano na região metropolitana do Rio Grande do Sul, fomos até Nova Santa Rita. Com 217,9 km² e 26.450 habitantes, segundo último censo do IBGE, a cidade é localizada a 21km de Porto Alegre e foi emancipada de Canoas há 25 anos.

O trajeto de Nova Santa Rita para Porto Alegre leva em torno 25 minutos de carro; no entanto, quando o mesmo percurso é feito com o transporte público da cidade, no mínimo triplica. Para chegar a qualquer outra cidade, os moradores dos 10 bairros que compõem a cidade precisam ir até o terminal do Centro, pois não há a opção de pegar um ônibus em uma parada próxima de casa que faça um caminho direto.

A dependência da locomoção constante até centro da cidade é considerada um dos maiores transtornos do cotidiano dos moradores de Nova Santa Rita. Isso acontece porque, em geral, os serviços públicos são centralizados. A saúde, por exemplo, conta com cinco postos de saúde e o único atendimento de emergência fica no Centro. Não há maternidades no município e apenas um centro de especialidades é responsável pela realização de exames, consultas de ginecologia, psicologia e fisioterapia. Em todos estes casos, os pacientes precisam, antes, retirar um encaminhamento na Emergência localizada no centro da cidade.

A cidade dispõe de duas lotéricas, uma localizada no centro e outra no bairro Berto Círio, considerado pelos moradores o mais independente da cidade. As agências bancárias também são localizadas somente no centro. Além disso, existem apenas duas escolas de ensino médio, uma em um bairro rural e a outra também no centro. Portanto, o eixo que conecta a educação, a saúde e o planejamento urbano como um todo, é o centro da cidade.

Por onde as reivindicações da população devem passar para que sejam atendidas?

A quem recorrer

Clovis Bastian, assessor de imprensa da Câmara de Vereadores.

Fomos recebidas na Câmara de Vereadores de Nova Santa Rita, a nomeada “Casa do Povo”, pelo Assessor de Imprensa Clovis Bastian. A entrevista não agendada foi realizada na sala onde os vereadores discutem viabilidade de projetos a serem votados. Sobre o seu trabalho, Clovis Bastian ressaltou a transparência do site, no qual são disponibilizados os boletins das sessões e todas as tramitações de projetos. O assessor de imprensa trabalha há quatro anos na Câmara e explica que o seu trabalho de divulgação de informação tem maior efetividade nas redes sociais, porque lhe permitem utilizar um vocabulário mais abrangente e acessível.

“Infelizmente as pessoas só vem à câmara quando há um projeto que pode prejudicá-las ou beneficiá-las instantaneamente, como no caso das homenagens que a Câmara presta aos cidadãos que se destacam no esporte.”

Clóvis afirma que algumas pessoas são “presenças marcadas” na Câmara, mas que, em média, apenas 30 das 100 cadeiras são ocupadas por sessão. Segundo ele, as demandas mais frequentes são sobre conserto de calçadas, solicitação de asfalto, saneamento básico, canos quebrados e melhorias nas estradas. “Como os vereadores são as pessoas procuradas pela população, a maioria dos problemas são solucionado por indicações.” diz. Atualmente, não há projetos que se refiram à falta de serviços públicos nos diferentes bairros da cidade.

“Logicamente, se as pessoas participassem mais das sessões da Câmara, seria mais fácil de cobrar mudanças.”

Prefeitura Municipal de Nova Santa Rita.

O Secretário da ouvidoria de Nova Santa Rita, Júlio César Fraga da Silva, acredita que a funcionalidade do órgão recém criado acontecerá a longo prazo, após a intensificação da sua divulgação. À frente do contato com os cidadãos, Júlio César afirma que a maior parte das queixas são feitas por adultos. Os jovens, ele explica, geralmente fazem queixas apenas sobre o transporte público. “Estamos começando a implantação deste serviço por etapas. No começo era só por e-mail e presencial, mas, na medida em que observamos como algumas pessoas chegavam muito alteradas na sede da prefeitura, criamos um canal da ouvidoria também pelo WhatsApp” diz. Como morador, Julio César comenta sobre a falta de entrega dos correios em alguns bairros, mas explica que isso nem chega a ser questionado pela população.

O que diz a população

Danilo Fernandes tem 65 anos e mora há 19 anos no município. Para ele, a prioridade da cidade deveria ser o transporte público, mas existem outras demandas que, segundo Danilo, não são exclusivas de Nova Santa Rita, como a falta de saneamento básico. Nós lhe perguntamos ainda como é sua participação nos processos políticos da cidade. Confira:

Danilo, infelizmente, é mais exceção que regra na cidade. Em geral, as pessoas respondem que “se for sobre política, prefiro não responder”.

“Não tem ônibus. Só tem o escolar de manhã, meio dia e às cinco horas. Em outros horários, não tem. Só tem a carona que a gente pega com a prefeitura, mas a gente precisa de ônibus”, relata Delmira dos Santos, moradora do Assentamento de Santa Rita de Cássia II. Ela nasceu e se criou em Nova Santa Rita e conta ainda que, com o passar do tempo, a situação das ruas melhorou bastante, mas ainda não é a ideal. O neto de Dona Delmira nunca estudou perto de casa e, quando pedimos para ela nos contar como é o seu bairro, ela explicou: “perto da minha casa não tem nada. Não tem armazém, só um postinho de saúde que a gente lutou muito pra ter. Pra todo o resto, temos que vir aqui no centro.” Dona Delmira nunca ouviu falar dos mecanismos da prefeitura para que a população possa registrar suas reclamações e demandas.

Delmira dos Santos, aposentada e moradora de Nova Santa Rita.

“Eu votei em um vereador, mas não consigo acompanhar porque não tenho como vir até o centro e ir nas sessões da Câmara. Internet eu também não tenho, nem computador.”

Maria Helena Maciel também é aposentada e chama a atenção para um problema muito mais específico na situação do transporte público do município: a acessibilidade.

A naturalização dos problemas

O professor de História e estudante de sociologia da UFRGS, Gustavo Coelho, explica o contexto que faz com que as pessoas, deixem de levar suas reclamações aos órgãos competentes. Na prática, as conversas cotidianas sobre os problemas de acessibilidade a serviços públicos, ajudam as pessoas a suportar essa série de descasos.

Foto: Reprodução/Facebook

“Quem não tem grana fica com as piores partes da cidade. Mas, hoje em dia, as pessoas acabam reforçando ideias como: ‘Não temos acesso a meios melhores porque sempre foi assim’.”

Coelho conclui que a falta de reivindicação quanto às demandas populares diz respeito ainda à descrença da população com os políticos e à crise de representação política brasileira como um todo. Segundo ele, os escândalos de corrupção, as informações sobre desvios e falhas na gestão fazem com que as pessoas deixem de acreditar nos canais de institucionais. Ao mesmo tempo, a participação política, que não diz respeito apenas ao voto durante as eleições, está se distanciando cada vez mais das discussões coletivas. “As pessoas entram em uma lógica de competitividade, de ‘correr atrás do seu’ e não se vinculam mais com as questões de forma coletiva.”, Coelho argumenta.

O professor também relembra os protestos de 2013 e comenta: “Poderíamos ampliar essa pauta de infraestrutura para todas as questões do espaço urbano”.

 

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