“Moradores, políticos e MP se unem contra construção dos bombeiros no Cete”

Fonte: Sul21
Promotor Cláudio Ari Mello (segundo à esquerda) visitou o Cete no final da tarde desta quinta (25) | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Criado há 55 anos no bairro Menino Deus, o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete) é um dos espaços mais tradicionais de práticas esportivas de Porto Alegre. Pelos seus ginásios e espaços para atletismo, passam diariamente milhares de pessoas: crianças, atletas amadores, profissionais e da terceira idade. A campeã mundial Daiane dos Santos, por exemplo, fez aulas de ginástica artística ministradas no local. Preocupados com a possibilidade de o local passar a ser também a sede de uma unidade do Corpo de Bombeiros, moradores e representantes de movimentos sociais organizaram nesta quarta-feira (25) um protesto para acompanhar a visita do promotor de Justiça de Habitação e Defesa da Ordem Urbanística, Cláudio Ari Mello.

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O plano do governo Sartori é vender a área atualmente ocupada por bombeiros e Brigada Militar no bairro Santa Cecília — um leilão da área realizado em março deu vazio — e levar as atividades ali realizadas para o Cete, no caso da sede dos primeiros, e para o bairro Teresópolis, no caso do ginásio e da academia da BM. O projeto está suspenso momentaneamente, mas a comunidade que utiliza o espaço está se unindo para impedir que ele tenha prosseguimento.

Ao chegar no Cete, o promotor foi recebido por um grupo de cerca de 50 moradores e usuários do espaço, que formaram uma roda para apresentar argumentos contrários à construção da unidade dos bombeiros. Presidente da Associação dos Moradores do Menino Deus, José Paulo Barros, destacou que há duas razões principais para a oposição ao projeto. A primeira delas é que haveria dezenas ou centenas de outras áreas pertencentes ao governo no Estado que poderiam acomodar, inclusive de forma mais adequada, as instalações dos bombeiros. O segundo argumento é que a atividade da corporação é incompatível com aquela desenvolvida pelos moradores.

Sílvio Flores que frequentou o Cete quando criança e voltou ao espaço nos últimos anos, criticou o projeto do governo | Foto: Guilherme Santos/Sul21

O servidor municipal Sílvio Flores, 43 anos, começou a frequentar o Cete ainda criança, por volta dos 12 anos. Depois de um período afastado, há cerca de cinco anos, morando no Centro Histórico, voltou a frequentar o espaço para realizar exercícios, praticar corridas e até como área de lazer para a família nos finais de semana. Ele lamenta que o governo Sartori esteja pensando em um projeto que pode prejudicar a população. “Isso aqui é fundamental para a qualidade de vida do pessoal. Todo mundo aproveita bem. Vem o pessoal que faz preparo para concurso, o pessoal que busca simplesmente qualidade de vida, crianças que fazem artes marciais. Eu acho que não é uma atitude legal de um governo tomar uma medida sem prensar na população, ainda mais um pessoal que frequenta aqui há muito tempo”, afirma.

O Cete conta atualmente com três ginásios poliesportivos, quadras de futebol 7, tênis e vôlei de praia, além da pista de atletismo olímpica, a principal atração do local, aberta até as 22h. Oferece aulas e espaços para práticas esportivas como boxe, ginástica, esgrima paraolímpica, entre outras. Há ainda aparelhos de exercício e uma pista de caminhada, construída como contrapartida por uma empresa privada em 2016, mas que já apresenta sinais de deterioração. Barros destaca que um estudo de uma universidade de Porto Alegre apontou que cerca de 100 mil pessoas frequentam o local mensalmente. O espaço também é usufruído por alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Mané Garrincha, localizada no mesmo espaço. “O bombeiro botando o pé aqui dentro, é questão de tempo que nem a pista a população vai poder usar”, disse Barros.

Outros moradores e atletas lembraram ainda que o Cete não é frequentado apenas por moradores do bairro, mas de diversas parte da cidade e do Estado, uma vez que trata-se do único espaço público que oferece condições seguras para a prática de esportes durante a noite. Também destacaram que a chegada de uma unidade dos bombeiros, para abrigar potencialmente até 400 pessoas, seria incompatível com a vida no bairro, pois traria um trânsito que as ruas do entorno são incapazes de comportar — a Rua Gonçalves Dias, acesso principal ao centro, é mão única na altura do Cete — e tiraria um dos poucos espaços verdes do bairro, cada vez mais tomado por altas torres.

O Cete oferece atividades esportivas da manhã às 22h |Foto: Caroline Ferraz/Sul21

José Fonseca, representante do coletivo A Cidade Que Queremos — que reúne 25 entidades locais –, morador do bairro e usuário do Cete, questionou a compatibilidade do projeto, que prevê a construção de estruturas para abrigar uma escola do Corpo de Bombeiros, que inclui prédios, restaurante, alojamento, piscina para treinamento, no espaço que hoje é destinado para o estacionamento dos usuários do centro.

“Como é que possível tu misturar atividades de bombeiros com crianças da escola Mané Garrincha, com crianças portadores de necessidades especiais que frequentam os ginásios? É uma situação de profunda incompatibilidade. Como é que o bombeiro vai participar de um treinamento de atividades de perigo num ambiente em que a população está querendo fazer seus treinos, suas corridas, seu lazer, com crianças que precisam muito desse espaço do ginásio para suas aulas? Como misturar milhares de pessoas com 400 alunos em formação?”, diz.

Presente no ato como representante da Frente Parlamentar de Fiscalização da Alienação de Imóveis Públicos no Rio Grande do Sul da Assembleia Legislativa, que tem por objetivo fiscalizar a venda, permuta e troca de bens e imóveis do Estado, o deputado estadual Nelsinho Metalúrgico (PT) expressou preocupação com a proposta. “Estamos acompanhando esse caso porque há um movimento do governo de promover a venda daquela área no Santa Cecília com a condição de construir no Cete a academia e a escola de Bombeiros, sem ouvir a comunidade do bairro, que é usuária, que tem uma relação de carinho com o centro. Achamos que o governo não pode condicionar a venda daquela área a essa possibilidade aqui, porque a população não está de acordo com esse projeto”, disse.

Nelsinho destacou no evento que o Estado tem hoje milhares de imóveis, sendo grande parte deles sem função, o que não é o caso do Cete. Ele defendeu que a Assembleia Legislativa deve promover uma audiência pública para ouvir os moradores e discutir com eles o tema.

Espaço é utilizado por milhares de pessoas diariamente | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Apontado no protesto como o “descobridor” do projeto de construção no Cete, o vereador Cassiá Carpes (PP) diz que tomou conhecimento dos planos quando foi convidado pela Brigada Militar para uma apresentação sobre o projeto de construção de uma unidade da corporação no bairro Teresópolis. “Ali eu fui surpreendido com um segundo projeto, dos bombeiros para o Cete”, diz.

O vereador destaca que sempre se posicionou a favor dos bombeiros, mas que não se pode misturar as coisas e defender a construção de diversos prédios em uma área que é um “templo do esporte, onde foram forjados vários atletas”. Cassiá, que era treinador de futebol antes de entrar para a política, defende que o Estado deveria estar, pelo contrário, buscando alternativas para fomentar o esporte, que hoje sequer tem uma secretaria específica no governo Sartori, é apenas um departamento dentro da Secretaria de Cultura. “Nada contra a Cultura, mas são coisas diferentes. A maioria dos estados têm secretaria de Esportes e nós temos que ter”, diz.

Cassiá, que chegou a participar do governo Sartori em 2015, justamente como presidente da Fundação do Esporte e Lazer do Estado (Fundergs), destaca que o Esporte trazia, por meio da fundação, cerca de R$ 1,2 milhão mensais em investimentos federais garantidos pela Lei Pelé para o caixa único do Estado, mas que essa verba se perdeu com a extinção da fundação, no final daquele ano — mesmo o governo tendo prometido que isso não ocorreria. Por solicitação de Cassiá, o deputado estadual Frederico Antunes (PP) está coletando assinaturas para a criação de uma Frente Parlamentar em Defesa do Cete.

Acompanhado da vereadora Sofia Cavedon (PT), que chegou no final do evento, o promotor visitou as instalações do Cete | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Promotor é contra a construção

Instigado a visitar o local pelos próprios moradores do bairro, Cláudio Ari Mello, que também vive no Menino Deus, diz que já instalou um inquérito civil público no MP para apurar se existe violação da ordem urbanística no projeto dos bombeiros. Ele destaca que sua presença no local nesta quarta tratou-se apenas de uma visita, uma vez que uma vistoria oficial depende de o governo fornecer o projeto e que seria feita por um engenheiro e um arquiteto.

Assim como Cassiá, Ari Mello também destacou que é favorável aos bombeiros, salientando que o MP, inclusive, tem uma ação cotra o Estado para que a corporação receba melhores estruturas físicas e materiais, mas que isso não implicaria em “limitar espaços únicos e irreproduzíveis como é o caso do Cete”.

O promotor posicionou-se contra o projeto, destacando que há riscos de impacto urbano para o entorno do local e também de impacto social, com possíveis prejuízos causados para a comunidade. No entanto, lembrou que há uma série de etapas que o governo precisaria vencer para realizar a obra, como aprovação de um Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) pelo município de Porto Alegre e, possivelmente, até de uma mudança no Plano Diretor da cidade.

Ele reforçou que ainda não tem informações precisas sobre o projeto, uma vez que fez a solicitação para que o governo o apresentasse, mas não o recebeu. O promotor afirmou que uma intervenção do MP, por meio de ação judicial, só seria necessária caso o Estado insista na ideia. Contudo, saudou a oportunidade como um momento que a cidade pode aproveitar para discutir a importância do Cete para a comunidade e até a necessidade de novos investimentos.

“Para promotor, Cete não tem condições de abrigar Escola dos Bombeiros”

Fonte: Correio do Povo

MP continuará estudos sobre impactos, mas deve sugerir para governo propor outro local

MP e vereadores visitaram o Cete nesta quarta-feira | Foto: Fabiano do Amaral

MP e vereadores visitaram o Cete nesta quarta-feira | Foto: Fabiano do Amaral

Após abrir inquérito para apurar a construção da Escola de Bombeiros no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), na Capital, a Promotoria de Justiça de Habitação e Defesa da Ordem Urbanística indicou um representante do órgão para visitar nesta quarta-feira as dependências do local. Acompanhado de vereadores que compõem a Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude, o promotor Cláudio Ari Pinheiro de Mello garante que a área localizada no Menino Deus não tem condições de abrigar a estrutura para acomodar os bombeiros.

Acompanhado de vereadores que compõem a Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude, Mello observa que o local é responsável por oferecer estrutura a campeões de esportes de alto rendimento. E ao invés de desvalorizá-lo, o Cete precisaria de investimentos. “A visita confirma a impressão que nós tínhamos, que o equipamento não tem como receber estrutura de prédios para acomodar Escola do Corpo de Bombeiros sem que isso afete muito dramaticamente a funcionalidade original do prédio, que é muito rica, diversificada e muito utilizada”, afirma.

Mello ressalta que o impacto urbanístico na região precisa ser analisado de maneira mais técnica, mas alerta que a promotoria ainda não tem uma posição oficial do governo do Estado, que ‘talvez tenha que refletir um pouquinho’. O promotor garante, no entanto, que o Ministério Público, ao receber o projeto, vai continuar com seus próprios estudos. “Outro aspecto, talvez não tão importante mas que pode contar como decisivo, é se o governo estudou os tantos outros espaços que são alternativos e que não causariam dano urbanístico à cidade como um investimento aqui no Cete provocaria”, compara.

Uma das representantes da comissão de Educação da Câmara, a vereadora Sofia Cavedon (PT) defende uma estrutura adequada aos bombeiros, mas destaca que o local escolhido pelo Estado para instalar a Escola de Bombeiros vai gerar uma série de problemas, como impactos viários e no direito à segurança das pessoas. “Estamos convencidos de que tem lugares mais adequados (para a instalação), mas principalmente que será uma interferência brutal neste que é o último reduto que temos público”, explica. Sofia sustenta que o Cete abriga desde deficientes a pessoas que perderam suas famílias. “É um absurdo que o Estado não perceba isso, tenha olhado de uma forma pragmática e superficial e decidido sem discutir com a sociedade”.

O CETE para quem dele sempre precisou!

Não são mais boatos. O governo do Estado revela que se eximiu de recuperar a unidade do Corpo de Bombeiros da Silva Só com Ipiranga, após temporal, para vender toda aquela área para a especulação imobiliária. Mais do que isso. Num profundo desrespeito a comunidade usuária do CETE – Centro Estadual de Treinamento Esportivo, manda elaborar projeto de vários pavimentos para abrigar quatrocentos alunos em treinamento, que, além de ocupar quase todo espaço de estacionamento, destruirão árvores e construirão piscinas. Além disso, os treinamentos congregam exercícios de risco como a manipulação de materiais inflamáveis. Tudo isso na presença de milhares de pessoas que ali frequentam, entre elas crianças, muitas delas portadoras de necessidades especiais e alunos da Escola Mané Garrincha. Reconhecemos a importância do trabalho dos bombeiros e defendemos que tenham um local adequado, com espaço e condições necessárias para treinamento. No entanto, congregar estas atividades no CETE tornaria um local de tensão permanente tanto para população quanto para os bombeiros. Por que uma escola de bombeiros ali? Além disso, não concordamos com a transfiguração de um local de treinamento, esporte, e congregação em algo estranho e muito diferente do que temos até agora.

O CETE como extensão dos lares

O CETE recebe aproximadamente três mil pessoas por dia. O bairro Menino Deus é o 5º bairro em número de pessoas idosas (com mais de 60 anos) de Porto Alegre, de acordo com o Observapoa. São pessoas que transformaram o CETE numa extensão dos seus lares. Quanto mais obstáculos ou dificuldades para acessar o equipamento, como o projeto dos Bombeiros necessita, mais hostil e distante ficará da população.

Os recentes investimentos ocorridos na reforma do CETE, nas suas instalações, pista e vias do entorno o transformaram num centro de referência e excelência esportiva na América Latina e, principalmente, referência para os moradores do bairro.

O Bairro Menino Deus é contornado por grandes avenidas, mas seu interior apresenta uma característica de tranquilidade onde são valorizados os pequenos mercados, padarias de rua, confeitarias, cafés, fruteiras, feiras livres junto às praças, que aproximam os vizinhos e criam uma ambiência própria atraindo visitantes e promovendo socialização da própria população do e no Bairro. O CETE faz parte desse conjunto de elementos do bairro que promovem o bem-estar da população.

O CETE como dinamizador da economia do bairro /cidade

O CETE possui 20 modalidades esportivas e foi berço de formação de grandes atletas brasileiros. Eventos esportivos no local são importantes dinamizadores da economia do bairro e da cidade.

Diminuindo a área do CETE, para construção de prédios, estará acabando com a capacidade de realização de eventos no local. Lembramos que por ocasião da realização do Mundial de Atletismo Master sediado no CETE – Centro Estadual de Treinamento Esportivo foi possível observar inúmeros visitantes, estrangeiros ou não, passeando pelo bairro, frequentando padarias, mercados, cafés ou simplesmente se exercitando nas calçadas arborizadas. Isto reforça mais ainda a idéia de que o CETE, como se encontra, poderá contribuir com a economia local, sobretudo em períodos de crises.

O CETE como patrimônio de memória

O CETE faz parte da vida da população portoalegrense e do bairro Menino Deus desde 1963. Reconhecer a importância da preservação de espaços de memória é promover cidadania.

COLETIVO A CIDADE QUE QUEREMOS – PORTO ALEGRE

 


 

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Fotos: Lucimar F Siqueira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1]    http://portoalegreemanalise.procempa.com.br/?analises=10_150_1

[2]https://www.youtube.com/watch?v=cB4sO8LbBrg

 

COLETIVO A CIDADE QUE QUEREMOS – PORTO ALEGRE