BANQUETAÇO Porto Alegre – um grande banquete pela manutenção do CONSEA e em defesa da comida de verdade

O Coletivo A Cidade Que Queremos apoia e participa da organização do Banquetaço Porto Alegre. Participe, também! Leve sua caneca e toda solidariedade aos que lutam por alimentação saudável para todos!

No próximo dia 27, em todo o Brasil, serão servidas mais de 15 mil refeições preparadas em sua maior parte com produtos da agricultura familiar e agroecológica.  

No dia 27 de fevereiro (quarta-feira) será realizado um grande banquete coletivo em mais de 15 cidades de todo o país. Desta vez o Banquetaço vai pedir a manutenção do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), extinto pelo atual governo, através da Medida Provisória Nº 870/2019, no primeiro dia do ano. A iniciativa prevê a distribuição de mais de 15 mil refeições em todo o país, em sua maior parte preparadas com produtos da agricultura familiar e agroecológica.

Na cidade de Porto Alegre, o evento acontece a partir das 12h, na Praça da Matriz – Centro.

O Banquetaço é um movimento político suprapartidário, que mobiliza a sociedade civil em defesa da boa alimentação. Em um cenário em que aumenta a fome no país, pretendemos chamar a atenção da população e dos políticos para a importância da permanência do CONSEA e das demais instâncias e programas da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que vêm sendo rapidamente desmontadas. Pretendemos reverter este processo. 

Das 541 emendas feitas à MP 870 (que reorganiza a estrutura da presidência e dos ministérios), 66 reivindicam a volta do CONSEA, o que corresponde a 12 % delas. As emendas foram apresentadas por deputados federais e senadores de diferentes partidos que compreenderam que o fim da fome no Brasil e o acesso à alimentação da população deve estar acima de qualquer diferença política. Essa também é a visão de pessoas e organizações do Brasil e todo o mundo. Mais de 30 mil assinaturas, nacionais e internacionais, foram reunidas em um abaixo assinado de iniciativa da FIAN, organização da sociedade civil pelo Direito Humano à Alimentação e Nutrição Adequadas, contra a extinção do conselho, e entregues à presidência da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e ao Ministro de Estado da Cidadania para serem anexados ao processo de análise da MP.  

“O Banquetaço valoriza a importância da participação social, democratizando o acesso à comida de verdade. É um banquete coletivo e solidário, que pretende alertar para a fome, o excesso de agrotóxicos e outras substâncias nocivas”, diz Glenn Makuta, representante da Associação Slow Food Brasil e um dos organizadores do Banquetaço.    

Como surgiu o Banquetaço? 

Criado em 2017, o Banquetaço é uma resposta à necessidade de defender o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Aconteceu pela primeira vez em São Paulo contra a Farinata/Ração Humana, proposta pelo então prefeito João Doria. Na época, agricultores, nutricionistas, participantes do Conselho Municipal de Segurança  Alimentar e Nutricional, cozinheiros e ativistas realizaram um ato de protesto diante do Theatro Municipal de São Paulo, onde foram servidas 2 mil refeições, chamando a atenção da população sobre o DHAA, conforme o artigo 6º da Constituição Brasileira. Os pratos foram preparados com produtos orgânicos locais, doações de temperos e plantas alimentícias não convencionais (PANCs) da Horta da USP, alimentos doados por empresários e legumes, verduras e frutas que, embora com qualidade para o consumo, seriam descartados pelo CEASA. 

Agora o movimento se nacionaliza em defesa da participação social na tomada de decisão em políticas alimentares como a  Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e do Manifesto Comida de Verdade (www.abrasco.org.br/site/wp-content/uploads/2017/06/copy2_of_Manifesto_comidadeverdade.pdf), elaborado durante a 5ª Conferência Nacional de SAN, em 2015.  

Sobre o CONSEA 

Criado em 1994, durante o governo Itamar Franco e desativado em 1995, o CONSEA voltou a existir em 2003, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O conselho atuava como um órgão de assessoramento imediato à Presidência da República e integrava o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). Era um espaço institucional para o controle social e participação da sociedade, composto por dois terços de representantes da sociedade civil e um terço de representantes governamentais. 

Entre suas atribuições estava a participação na formulação, no monitoramento e na avaliação de políticas públicas voltadas para a garantia do DHAA. Dentre as principais conquistas do CONSEA estão: a proposição inovadora do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Cisternas que promove o acesso à água no semiárido brasileiro; a ampliação e aperfeiçoamento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), com a determinação de que 30% da alimentação seja comprada dos agricultores familiares; a aprovação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica; a proposição da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PL 6.670/2016); e a rejeição do chamado Pacote do Veneno (PL 6299/02). 

“O Consea levava para dentro do governo diferentes demandas, conhecimentos e propostas. A diversidade do conselho estimulava os setores a saírem de suas caixinhas e compreenderem as necessidades e as soluções a partir de outras perspectivas”, explica Elisabetta Recine, presidente do Consea entre 2017 e 2018.  Sem ele, a abordagem articulada entre a Segurança Alimentar e Nutricional e os  sistemas alimentares com a nutrição se perde. O que resta são ações esparsas, dispersas e assistencialistas que não alteram de maneira sustentável nenhum dos problemas alimentares e nutricionais enfrentados por todas e todos nós.” 

Para comer comida de verdade, conheça a verdade sobre a comida! 

Saiba mais no evento que foi criado no Facebook para o Banquetaço do dia 27:https://www.facebook.com/events/2062677720447351/ Veja a página do Banquetaço:https://www.facebook.com/direitoalimentacaodeverdade/

Nota do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do RS – CONSEA-RS

Rua Miguel Teixeira, 86 / Térreo / CEP: 90050-250 / Porto Alegre – RS. Fone: (51) 99971-5917 (Presidente)  Endereço Eletrônico:  consea-rs@sdstjdh.rs.gov.br

No dia 1º de janeiro de 2019, a sociedade brasileira recebeu com muita preocupação a publicação da Medida Provisória nº 870 do Governo Federal. São medidas que atacam o núcleo da políticade Segurança Alimentar e Nutricional.  A Medida Provisória, entre outras mudanças, revoga o inciso II do caput e os § 2º, § 3º e § 4º do art. 11 da Lei nº 11.346/2006,Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN),que institui o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) como órgão de assessoramento direto à Presidência da República.Ou seja, elimina do Sistema de SAN previstos nesta Lei, a coluna dorsal do mesmo; o controle social, a articulação, o assessoramento ao executivo para a formulação das políticas, a convocação das Conferências entre outros, desconfigurando o formato sistêmico, articulado, e intersetorial desta política, castrando o direito à cidadania alimentar nutricional pela sociedade civil. Esta Lei, ao garantir ao Consea-Nacional, uma composição de 2/3 da sociedade civil para o acompanhamento e o monitoramento ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), inovou de tal forma que hoje este é um sistema reconhecido internacionalmente.Esta garantia democrática de controle social, já estava presente na criação do Consea-Nacional em 1993.

Em 2014 o Brasil saiu do Mapa da Fome da FAO, graças a um conjunto de medidas edisposições constantes na LOSAN, que visam assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada. Neste sentido, o Consea Nacional tem dado importantes contribuições para a sociedade brasileira, entre as quais ressaltamos: a inclusão da Alimentação como um direito na Constituição Federal; a aprovação da Política e do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; a proposição do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA); o aperfeiçoamento da Lei de Alimentação Escolar, ao determinar que pelo menos 30% da compra de alimentos para as refeições seja oriundo da agricultura familiar; a aprovação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo); os Planos Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN I e PLANSAN II); o monitoramento do Programa Um Milhão de Cisternas; o Guia alimentar para a população brasileira e Plano Intersetorial de Combate ao Sobrepeso e Obesidade,entre tantas outras ações.

Entretanto, em vez de continuarmos avançando na direção da ampliação desses direitos, a MP 870 aponta para um profundo retrocesso. Põem em risco não somente essa construção, mas volta atrás em, no mínimo, mais de 15 anos de avanços. Justo num momento em que o país enfrenta uma situação de vulnerabilidade alimentar, com o aumento da fome e do consumo de alimentos ultraprocessados, gerando uma massa populacional com sobrepeso e com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Essa desestruturação é reforçada pelo incentivo ao sistema alimentar baseado na monocultura, agricultura intensiva, uso de agrotóxicos e sementes transgênicas.

Para contrapor a este sistema hegemônico que gera concentração de renda e terra, contaminação e devastação ambiental e injustiças socioambientais, mais do que nunca é necessário o controle social do que vem sendo produzido no campo e nas cidades, para a garantia da Soberania e da Segurança Alimentar e Nutricional, com acesso a alimentos em quantidade e qualidade para toda a população brasileira. 

Para que o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional funcione adequadamente os Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional dependem deste apoio público e os municípios precisam continuar em seus processos de adesão ao SISAN, as Câmaras Intersetoriais governamentais (CAISANs) têm de ser criadas e responsabilizadas para a efetivação das políticas públicas de SAN e todas estas estruturas que sustentam e concretizam o SISAN aconteçam de direto e de fato. Para tanto, reafirmamos a importância e a responsabilidade que os Conseas têm no diálogo entre sociedade civil e governo em torno da participação e do controle social das políticas públicas de SAN.  Bem sabemos que políticas públicas isoladas não são suficientes para a garantia da alimentação saudável para a população. Neste momento histórico, retirar do SISAN sua estrutura de mobilização, de controle e de participação social é empobrecer a própria ação do Estado no sentido de ele dar respostas mais efetivas e estruturantes, especialmente aos grupos que vivem em maior vulnerabilidade na sociedade brasileira. 

Lembramos que o Encontro 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional + 2, realizado de 6 a 8 de março de 2018 em Brasília, reforçou compromissos nacionais com a luta pela “Comida de Verdade no Campo e na Cidade, por Direitos e Soberania”e reivindicou “Respeitar o Estado democrático de direito e o exercício da democracia pelo povo”. Para isso, “são necessários, portanto, o fortalecimento da implementação intersetorial das políticas de SAN e seu monitoramento e avaliação, respeitando acordos internacionais.”

O CONSEA-RS posiciona-se pela revogação do conteúdo da Medida Provisória nº 870, referente aos artigos supramencionados,  na perspectiva de garantia do funcionamento do Sistema Nacional instituído pela LOSAN e regulamentado pela Política Nacional de SAN e traduzido em um conjunto de ações expressas no Plano Nacional de Segurança Alimentar em vigor, bem como na garantia da implementação do recente Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul, 2018-2019.

Da mesma forma e seguindo as mesmas orientações o CONSEA-RS, que foi instituído pela Lei Estadual nº 11.914/2003, reafirma suas próprias responsabilidades enquanto Conselho vinculado ao gabinete do Governador do Estado e tem entre seus objetivos a proposição de diretrizes e de políticas de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (SANS) que contribuam para o sucesso de compromissos de Governo pela produção de alimentos saudáveis para atender populações em insegurança alimentar, enfrentando dificuldades relacionadas à pobreza, com escasso acesso à educação alimentar básicas e excluídas socialmente. Incluem-se neste campo atribuições relativas ao controle social de políticas públicas interdisciplinares e intersetoriais – fundamentadas no Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável (DHAA-S). Portanto, seguimos fieis a compromissos que representam avanços civilizatórios, expressos nas Diretrizes e Desafios dos Planos Nacionais, respeitando as nossas peculiaridades regionais. 

Diante do cenário Nacional e Estadual que presenciamos, a Mesa Diretiva do CONSEA-RS, reunida dia 08 de janeiro de 2019, na Sede do próprio CONSEA-RS, deliberou sobre os encaminhamentos que seguem abaixo;

  1. Reproduzir este Comunicado ao Consea Nacional e a Comissão Permanente dos Presidentes de Conseas Estaduais (CPCE).
  2. Reproduzir este Comunicado a todas as lideranças que atuam em SAN no Estado do RS, vinculadas ou não aos Conselhos Municipais, para ampla divulgação nas Regiões e Municípios do RS.
  3. Encaminhar este Comunicado às representações comunitárias de todos os municípios do RS que for possível, às representações políticas dos legislativos e dos poderes Executivos municipais e regionais.
  4. Encaminhar este Comunicado às lideranças políticas estaduais, com interferências estaduais (legislativos) e federais (Câmara dos Deputados), que residam no RS e/ou nas suas regiões, para que se comprometam com a defesa do Direito Humano à Alimentação Adequada e a defesa da continuidade do CONSEA Nacional e dos respectivos conselhos estaduais e municipais.
  5. Encaminhar este Comunicado a todo e qualquer cidadão, do Estado do Rio Grande do Sul, que se disponha a ser sujeito da sua história, e que tenha compromisso com a Segurança e com a Soberania Alimentar de nosso Estado.
  6. Assegurar a todos que estaremos em reunião permanente, que ocorrerá de forma presencial todas as terças feitas entre 15 e 17 horas, na sede do CONSEA, quando produziremos comunicados como este, objetivando manter nossa coesão e nivelamento de conteúdo. Reafirmamos nossos compromissos republicanos, bem como nossa confiança na democracia e na solidariedade do povo brasileiro, para com nossos irmãos menos favorecidos. 

Ubuntu: só estaremos bem se todas e todos estivermos bem!

CONSEA-RS

Porto Alegre, 09 de janeiro de 2019.



Heavy Hour – hortas urbanas, agroecologia e impactos dos agrotóxicos sobre a alimentação e saúde

Clique abaixo para ouvir o programa Heavy Hour – Coletivo Catarse.

Qual a relação entre alimentação e saúde no país campeão mundial de consumo de agrotóxicos? As decisões governamentais que atingem a agroecologia no campo e na CIDADE! No Heavy Hour desta semana a gente conversa com João Francisco Moraes Cardoso, o vereador Tigre, assentado e produtor rural agroecologista, feirante da mais tradicional Feira Ecológica de Porto Alegre. Também no Estúdio da Lua, a Monica Meira, doutora em antropologia, pesquisadora, integrante do Coletivo A Cidade que Queremos, ativista de Hortas Comunitárias.

Pelo áudio de zapzap (não é fakenews!!), Dr Ricardo Ghelman, coordenador da Unidade de Pediatria Integrativa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, fala sobre os malefícios do agrotóxicos e a relação entre alimentação e saúde. E o Livreiro Bolívar (51-98905.0672) com sua dica na Bibliografia Social, o livro “A vantagem acadêmica de Cuba”!

“SI PENSAMOS EN TÉRMINOS METABÓLICOS, LA CIUDAD NO ES INDEPENDIENTE DE TODAS LAS REDES Y FLUJOS QUE LA SOSTIENEN”: David Harvey.

Fonte: La Linea de Fuego

David Harvey. Foto: Edu León
David Harvey. Foto: Edu León

Redacción Lalineadefuego y el Observatorio del Cambio Rural

24 de octubre 2016

‘’La lucha en San Roque tiene que ver con la preservación de la historia cultural de la población indígena, por la defensa de sus formas culturales’’.

David Harvey, no solo es distinguido profesor de Antropología , sino al mismo tiempo probablemente el geógrafo académicomarxista más citado del mundo.

Gracias a sus aportes en temas como el derecho a la ciudad y su cercanía a las organizaciones del  Mercado de San Roque, en el contexto de Hábitat III Harvey conversó con OCARU y Lalineadefuego respecto al papel de los mercados populares y la Soberanía Alimentaria en las ciudades.

¿Qué debemos entender cuando nos referimos al Metabolismo Social en las ciudades?

Uno no debe acercarse al tema de la ciudad en términos mecánicos. Tenemos que pensarla orgánicamente. Es necesario verla como algo que está en crecimiento, como algo ‘vivo’’, donde los  habitantes la cambian constantemente, donde los flujos de energía, de agua y comida son elementos que sostienen su  vida diaria. Pero eso no es todo. Además de estos elementos materiales, es necesario tomar en cuenta los flujos de dinero, de poder, de influencia. Debemos preguntarnos: ¿quiénes son los que controlan las llaves de los flujos dinero y poder? ¿qué sectores de la ciudad reciben servicios públicos adecuados y qué sectores reciben malos servicios?

Otro factor para tomar en cuenta es la vida cultural en las calles y cómo esta varía de un sector a otro. Lo interesante  es que a veces son los sectores que tienen menos servicios públicos, los que tienen más vida en las calles. Y en este sentido, muchas veces encuentro proyectos de la llamada ‘regeneración urbana’ que desde mi punto de vista no lo son, y que en realidad representan  procesos de degeneración urbana. En  muchos casos la gentrificación provoca transformaciones culturales negativos.

Cuando se refiere al derecho a la ciudad, ¿cómo  incluye a los campesinos e indígenas que habitan  las ciudades?

Yo no veo el derecho a la ciudad como algo que tiene que ver con un territorio definido. Si pensamos en términos metabólicos, la ciudad no es independiente de todas las redes y flujos que la sostienen. Por ejemplo, el Mercado de San Roque es un lugar en el cual el campo se encuentra dentro de la ciudad, en donde hay flujos migratorios a partir de los cuales la gente regresa al campo y luego vuelve a la ciudad. Por tanto, el derecho a la ciudad debe pensarse como un derecho político. Debe servir para cambiar el entorno en el cual se vive, con los recursos para transformar la vida, para mejorarla y, en particular, para que ese derecho pertenezca a la gente que menos tiene. Desafortunadamente, todos reclaman el derecho a la ciudad: los ricos, los financistas, los empresarios y los constructores buscan construir cosas disparatadas.

En Quito, me enteré de algunos proyectos que, por ejemplo, proponían desalojar a todos los indígenas del centro histórico. Es decir que hay una lucha y el derecho a la ciudad supone el derecho de los que menos tiene de luchar por mejorar su vida dentro de la ciudad. La lucha en San Roque, por ejemplo, tiene que ver con la preservación de la historia cultural de la población indígena, por la defensa de sus formas culturales. Es por eso que si bien yo aún utilizo el término Derecho a la Ciudad, estoy consciente de que en estos días la ONU se ha apropiado del término.

Lo que usted menciona nos refiere a una lucha por la ciudad entre diferentes sectores sociales, específicamente en el caso de los mercados populares. ¿Cuáles son los conflictos sociales y políticos que enfrentan quienes están luchando por la defensa de los mercados?

No existe movimiento social alguno que no mire hacia diversas direcciones, de maneras distintas y donde no existen luchas por el poder. De acuerdo con mi experiencia de los movimientos sociales, hay mucha fracción. La gente de los mercados trabaja mejor cuando está unida, pero siempre existen aspectos que los separan, independientemente de las presiones externas. Pero no creo que el conflicto sea algo malo. Es una parte muy importante de las pasiones de la gente comprometida pero, a veces, puede producir rupturas. Sin embargo, de esto se trata la vida.

 Hay gente que prefiere los supermercados a los mercados populares como San Roque porque ofrecen mejores condiciones, ¿Qué tipo de alternativas hay frente a los supermercados? ¿Las cooperativas, por ejemplo?

Depende del equilibrio de fuerzas, de que sí realmente quieran movilizarse dentro o fuera de los mercados. Pero estoy de acuerdo en que la gente de los mercados debe tener  cuidado cuando se presentan a la gente que va a comprar.  Si quieren competir con los supermercados, tal vez, tendrían que abrir todo el día porque existe mucha gente que hace sus compras en la noche. Tal vez sería buena idea tomar una parte del mercado de San Roque para convertirla en un centro de acopio y distribución que funcione las 24 horas. Entonces, el cooperativismo podría funcionar si es que hay gente que está interesada en hacerlo funcionar, se puede, pero ahí viene la pregunta acerca de si hay o no gente que quiere tomar esa ruta. En la actualidad hay diversas organizaciones adentro y afuera del mercado que, aparentemente, no siempre están de acuerdo las unas con las otras. Entonces esto es parte del problema, la organización interna.

Respecto a la producción y distribución de alimentos, el panorama está dominado por cadenas globales alimenticias  que controlan la exportación y las redes de comercialización, delegando cada vez más el cultivo a los pequeños y medianos productores locales que terminan asumiendo  todos los riesgos de la producción. ¿De qué se tratan en realidad estas cadenas? ¿Qué sucede en términos de la renta y el precio de la tierra? ¿Qué hacer para salvaguardar a los pequeños y medianos productores desde las políticas públicas?

Creo que es un asunto de poder, de lograr poner en práctica las ideas frente a un bloque económico con intereses muy fuertes. En relación a lo que sucede respecto al precio de la tierra, en Argentina por ejemplo el precio de la tierra se ha incrementado dramáticamente debido a las políticas agrarias. No estoy al tanto de lo que pasa acá pero sospecho que el precio está aumentando,

Al mismo tiempo, estas grandes corporaciones de comercialización tienen contratos con la gente que les proveen y el resultado es que hay una cantidad enorme de desperdicios porque en los supermercados solo aceptan cierta calidad y cantidad; por ejemplo, si los limones tienen pequeñas manchas, no van a aceptarlos. Hay algunos estudios en EE.UU. que dicen que hasta el 40% de los alimentos son desperdiciados.

Existe la propuesta de obligar a los supermercados a dedicar una parte de su espacio a la venta de  productos que no están en perfectas condiciones. La idea es buena. Sería una fuente de comida para la gente que menos tiene y  una innovación como ésta podría ser importante en un país como EE.UU.,  donde el 30% de los niños padecen malnutrición.

Pienso también que sería bueno que el Estado tenga un sistema de seguros para cubrir los riesgos de los pequeños productores ya que estos están asumiendo todos los riesgos. Muchos de los pequeños productores no cuentan con suficiente dinero para pagar un seguro y estos problemas se han de resolver; el Estado debería ayudar en ese sentido.

¿Por qué estas temáticas no son de interés para el debate sobre la ciudad en Hábitat III? 

Creo que la primera reunión de Hábitat fue más o menos interesante pero ahora se ha degenerado en una organización de mercadeo que está dominada por principios políticos neoliberales;  no creo que estén discutiendo nada significativo aquí en Quito. Se trata solamente de algunas empresas que venden su software de ‘Smart Cities’ o sistemas teleféricos etc. etc.  El espacio se ha degenerado. Es increíblemente aburrido.

Ahora que mencionas que Hábitat está dominado por principios neoliberales, si uno mira el panorama nacional y regional luego del paso de los llamados “gobiernos progresistas”, pareciera que, en efecto, no hay alternativa al neoliberalismo, que nos enfrentamos a un escenario en el que solo podemos elegir entre el neoliberalismo salvaje y el de “rostro humano”,  ¿Qué piensas sobre esto?

Parte del problema de los gobiernos progresistas en América Latina fue que, desde el principio, no desafiaron a los centros principales del poder; entonces, estos centros de poder tienden a regresar y volver a tomar las riendas. El segundo punto es que dichos gobiernos vivieron un período en el que fueron razonablemente  ricos debido a los altos precios de las commodities. Esta riqueza la gastaron en redistribución pero no tuvieron fondos de reserva para ayudarles a sobrellevar períodos de precios bajos y los embates de la derecha. Entonces, ahora están en un período en el que los precios de las commodities están a la baja, la economía en crisis y  la derecha aprovecha para buscar su oportunidad. Sin embargo, no creo que esto implique el fin de la izquierda. Creo que la velocidad con la que actualmente se mueven Macri y Temer sugiere que ellos saben que no van a estar en el poder por mucho tiempo.

Por tanto, la Izquierda tiene un buen momento para reflexionar sobre lo que estaba haciendo durante los últimos 10 años, para pensar en la próxima vez que llegue al poder, en cómo va a manejar la economía y en cómo va a desafiar a los centros de poder. En 5 años veremos un resurgimiento de la izquierda; en parte porque la solución neoliberal no soluciona nada. La solución neoliberal simplemente incrementa las desigualdades y produce daños al medio ambiente. Mucha gente ha visto durante los últimos 5 años que sí hay alternativas, y están dispuestos a desarrollar un movimiento político a partir de dichas líneas de acción.

Traducción, Gerard Coffey. Revisión de texto, Karla Encalada.