Por Adriano Formiga, Daniela Grimberg e Marcos Bohrer
O texto é resultado de uma pesquisa realizada na disciplina de Geografia Agrária, no curso de Geografia-UFRGS. Foram analisados os benefícios sociais e ambientais da agricultura urbana a partir da experiência de Cuba, onde foram criadas e implementadas políticas públicas para o aprimoramento da prática.

Foto: Marcos Bohrer
A principal característica da agricultura urbana é sua integração e interação com o ecossistema urbano. Pelos moldes da agroecologia (aplicação dos princípios da ecologia às práticas agrícolas), a agricultura urbana tem sido, historicamente, uma estratégia de desenvolvimento. Onde sua implementação foi efetiva, boa parte das deficiências alimentares da população e os impactos ambientais foram reduzidos.
Em Cuba, a agricultura urbana foi largamente adotada nos centros urbanos com o colapso da URSS e o fim do comércio no âmbito do Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON), que decretaram o fim do modelo soviético de agricultura industrial praticado pelo país desde a década de 1970.

Foto: Marcos Bohrer
Com a crise na produção de alimentos e a maior rigidez do bloqueio econômico imposto pelos EUA, a agricultura urbana foi uma solução: as zonas de produção próximas às áreas de habitação reduziam os custos de transporte, enquanto o pequeno volume da produção minimizava a necessidade de maquinaria e insumos como fertilizantes sintéticos, pesticidas etc.
Algumas estratégias do Ministério de Agricultura cubano para o incentivo à agricultura urbana
- Introdução sistemática de organopônicos (sistemas de jardins orgânicos) e de hortas intensivas na agricultura urbana;
- Canalização de recursos, para a produção, tanto às cidades como aos povoados menores;
- Distribuição da terra a indivíduos e cooperativas, organizadas como Cooperativas de Crédito e Serviço (CCS) e Unidades Básicas de Produção Cooperativa (UBCP);
- Incentivo aos patios (horta caseira para consumo familiar) e areas de consumo (produção de empresas estatais para consumo dos seus trabalhadores).

Foto: Marcos Bohrer
O bloqueio econômico, no entanto, incide negativamente no setor: entre março de 2010 e março de 2011, calcula-se um prejuízo de US$ 120 a 300 milhões, condicionando o país à necessidade de importação de alimentos. Em função disso, no VI Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), realizado em 2011, foram discutidas novas políticas a serem aplicadas para o reforço da agricultura urbana.
Deverá ser priorizada a substituição das importações dos produtos que podem ser produzidos de maneira eficiente no país. Os recursos para isso deverão se concentrar onde existem as melhores condições para a produção. Já nas demais atividades, deverá predominar o enfoque territorial, dirigido ao autoabastecimento, com ênfase na agricultura suburbana.
Podemos concluir que a implementação da agricultura urbana em Cuba beneficiou o volume de produção, a qualidade da dieta da população pelo maior consumo de orgânicos e os fatores ambientais das cidades, tais como qualidade do ar e da água, pelo aumento de áreas verdes. Acredita-se que esse modelo deva ser explorado nos países em desenvolvimento, como forma de combater problemas sociais e ambientais gerados pela expansão dos centros urbanos.