O Caos do Cais – Por Clara Corleone

Fonte: Minha Porto Alegre – A Política Mora ao Lado

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Porto Alegre, fevereiro de 2018

Uma das coisas que me deixa mais impressionada no atual projeto para o Cais do Porto é que ninguém percebe que ele ameaça o Catamarã – o tão amado, querido e sonhado Catamarã.

Sim, foi isso mesmo que você leu. O consórcio Cais Mauá do Brasil ameaça o Catamarã.

Há uma evidente sobreposição de contratos, uma vez que a operação das linhas do Catamarã é um negócio regido por licitação na qual consta a obrigação de o Estado ceder um armazém para a função de terminal. No entanto, em 2013 o consórcio questionou a operação dele – e não apenas dele, pois é evidente que tudo pode ficar pior, mas também do Cisne Branco e do barco do Grêmio Náutico União.

Se você não acredita em mim, confere o que os próprios caras falaram em carta enviada à SPH “tendo em vista que inexiste no contrato menção à obrigação de manter esse serviço em funcionamento dentro de sua área de arrendamento, requer à SPH esclarecimentos sobre a possibilidade de autorizar a continuidade de embarque e desembarque mediante remuneração acordada entre as partes. Caso não seja possível, entende ser cabível a interrupção imediata do serviço por se tratar de atividade não prevista no contrato”.

Está mais claro que o dia: interrupção imediata do serviço.

INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO SERVIÇO.

INTERRUPÇÃO
IMEDIATA
DO
SERVIÇO

Sem mencionar o fato de que o consórcio não tem dinheiro, não tem dinheiro, não tem dinheiro – estou repetindo essa frase enquanto giro com os braços abertos no meio do campo igualzinho a Julia Andrews em “A Noviça Rebelde”. Simplesmente não tem dinheiro, moçada! Está mais endividado que desempregado na fila do PIS, os boletos protestados, um horror. E todo mundo sabe, não é segredo de alcova, não. Tanto não tem dinheiro que teve a empresa que fazia a segurança do local mandando beijinho beijinho e tchau tchau por falta de pagamento, o que fez com que nosso governador deslocasse pessoal pra lá para guardar os armazéns.

Sim, o mesmo governador que parcela salários.

Você está muito irritado? Então aguenta que tem mais:

Havia a exigência, na licitação, que os interessados em assumir as obras comprovassem possuir patrimônio líquido de R$ 400 milhões. Esse valor afastou muitos consórcios e fez com que o Cais Mauá do Brasil S.A. levasse a parada. No entanto, até hoje o consórcio ainda não comprovou essa renda.

Eu escuto a sua insatisfação daqui, caro leitor. Eu ouço você resmungar “mas não pode ser”. E não poderia, mesmo. Acontece que foi exatamente assim que aconteceu.

Imagine que você tem interesse em uma vaga mas ela exige japonês fluente. Você não fala japonês, então desiste de competir pelo emprego. Depois, descobre que o colega que conquistou o cargo também não fala japonês. Entendeu alguma coisa?

Eu também não.

Portanto, vamos parar de falar tolices: ser contra esse projeto de revitalização não é ser contra a revitalização do Cais. Pensa um pouco, custa nada não.

Também escuto você, caro leitor, incomodado. Não está convencido e comenta “ai, mas é melhor assim do que nada”.

Venha para a luz da razão, segure a minha mão e aceite: “isso” já é “nada”. Afinal, faz quanto tempo que a população não pode circular livremente pelo Cais? Tirando, é claro, para pegar o Catamarã – que agora está ameaçado, olha a ironia! Lembra quando a gente entrava lá na Feira do Livro, na Bienal? Eu fui em shows e até em festas no Cais!

O nome da cidade é Porto Alegre mas o Cais é fechado.

Francamente!

Clara Corleone

ps: todas as informações contidas na coluna podem ser verificadas no dossiê Cais Mauá, belo trabalho da equipe do Jornal Já.

ps2: gostou da luz que a gente jogou nesse tema polêmico? Então nos apoia com uns pilas! Precisamos de muita grana não, precisamos é de muita gente doando pouquinho!

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